Título: Salário de presidente de conselho chega a R$ 67 mil por mês
Autor: Terciane Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Economia, p. B16

Ainda sob críticas e expectativas, conglomerados empresariais brasileiros começam a definir políticas mais claras e padronizadas para remunerar integrantes de conselhos administrativos - profissionais que estão acima dos altos executivos na estrutura das organizações. Números antes nebulosos começam a ser divulgados e debatidos. Conselheiros externos que trabalham em regime de dedicação parcial recebem, em média, R$ 7,7 mil por mês, montante que pode chegar a R$ 8,6 mil se contabilizados os bônus. Mais. Um presidente de Conselho de Administração que se dedique integralmente ao posto ganha, em média, R$ 56,5 mil por mês, valor que pode chegar a R$ 67 mil, com bônus. Estes foram alguns dos números revelados, em São Paulo, pela consultoria Watson Wyatt.

O levantamento foi feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). O objetivo foi orientar o trabalho dos profissionais da área, pesquisadores de Recursos Humanos e consultores, exatamente no momento em que mais se discute como remunerar os membros dos conselhos de administração. A pesquisa foi feita com 178 integrantes de conselhos de 17 empresas, sendo 15 de capital aberto. Juntas, respondem por uma receita de US$ 23 bilhões.

A pesquisa, rara no mercado brasileiro, mostrou que um presidente com dedicação parcial tem remuneração que varia de R$ 11,3 mil a R$ 13,1 mil. Para receber remunerações como as reveladas pelo estudo, os conselheiros precisam apenas de dedicação parcial - em média, entre 3 e 8 horas em reuniões com periodicidade mensal. Do universo pesquisado, 47% participam de 9 a 12 reuniões por ano; 29% de 5 a 8; e 24% até 4 reuniões anuais. Entre as empresas, 47% fazem reuniões de 4 horas; 33% de 8 horas e 20% de 3 horas. Os conselhos administrativos têm, em média, nove integrantes.

Outra revelação da pesquisa foi como são formados os conselhos de administração. Em geral, são montados por indicações de acionistas majoritários, 36%; externos independentes, 33%; externos não-independentes (aqueles que mantêm relação de negócios com majoritários), 18%; ex- executivos da companhia, 8%; e executivos da empresa, 5%.

ACESSO

A disponibilidade de informações sobre os conselheiros administrativos estão longe de serem acessíveis como são os já rotineiros levantamentos sobre práticas de remuneração de executivos. "Foram convidadas 30 empresas, das quais quase a metade disse que não tinha como responder os dados ou pessoas para passar as informações", contou Marcos Morales, diretor da área de Human Capital da Watson Wyatt e um dos coordenadores da pesquisa. "Há casos de empresas que ainda pagam remunerações diferentes para os conselheiros. Numa delas, um novato chegou com ganho maior e todos os outros exigiram equiparação", conta Morales.

PRESSÃO

"Os conselheiros estão sendo submetidos a um nível de responsabilidade mais complexo agora. Isso exige que a atividade profissional o faça estar mais perto da companhia", opina Marcos Morales. As exigências de novas leis e a pressão que a profissão vem sofrendo nos Estados Unidos, após uma onda de escândalos corporativos desde o caso Enron, traz reflexos de mão dupla a estes profissionais - exposição, maior reconhecimento e, com isso, mais cobrança.

A tensão foi perceptível na sessão de perguntas, quando houve muita exposição de opinião e troca de farpas sobre a necessidade de aumentar o número de participantes externos nos conselhos.

Para o presidente do Conselho de Administração do IBGC, José Guimarães Monforte, é preciso ponderações ao exigir que o Brasil se adapte às regras americanas. "Não se pode pagar o preço pela realidade daquele país, nem julgar previamente as pessoas pelo caráter", diz, a propósito de conselheiros não-independentes.

STATUS

A profissão de conselheiro ganhou destaque nos últimos dois anos, quando ficou perceptível, nas empresas americanas que foram à bancarrota, o fracasso do modelo que permite que o principal executivo de uma companhia também ocupe assento no conselho. "Antes, as pesquisas de mercado apontavam que os conselheiros eram escolhidos por relacionamento com o governo, fornecedores e demais empresas. Hoje tem de ser pela sua contribuição com o mercado", afirma, categórico, Paulo Conte Vasconcellos, conselheiro e coordenador do Comitê de Finanças e Contabilidade do IBGC.