Título: Alckmin critica toma-lá-dá-cá para derrubar CPI
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2005, Nacional, p. A4

Entre um Estado e outro, numa viagem de quase três horas pelo Brasil no Salão do Turismo, em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) atacou a liberação de emendas parlamentares em troca de apoio contra a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios. "Emenda não tem problema, o que não se deve é vincular as coisas", afirmou. "É um equívoco do governo essa questão da CPI porque entendo que quando tem denúncia de corrupção, se apura e pune, as instituições se fortalecem." Integrado à coordenação política, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, teria prometido liberar R$ 1,5 milhão de emendas ao Orçamento do ano passado para cada deputado que ajudar a derrubar a CPI. Seria a principal arma do governo para enterrar a investigação no Congresso.

"O que deve nortear a aprovação de emenda parlamentar é o interesse público. Deputado faz emenda para sua região, defende sua região, eu sou favorável a voto distrital e acho isso positivo, não vejo nenhum problema. Agora, você não pode vincular uma coisa à outra. Isso é muito ruim", insistiu.

Alckmin negou que exista hoje risco de crise institucional, mas vê na operação abafa do governo "desrespeito" ao Poder Legislativo, "que na realidade já votou a instalação de uma CPI". O requerimento não foi votado, mas reuniu o número de assinaturas necessário para a instalação. O governo federal tenta, agora, derrubar o pedido na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, sob o argumento de que não há "fato determinado" pendente de apuração.

Questionado sobre abertura de CPIs na Assembléia Legislativa - há 50 pedidos na lista - , o governador evocou razões parecidas. Ressaltou que os deputados são independentes e sentenciou: "Precisa ter fato. Você não faz uma CPI por fazer". Todas as votações no Legislativo paulista estão hoje paradas por causa da disputa entre PT, PSDB e aliados em torno da criação de CPIs. Na próxima semana, o presidente Rodrigo Garcia (PFL) deve tentar levar a voto mais uma vez a abertura de uma CPI sobre meio ambiente e áreas contaminadas.

Presidenciável, Alckmin atendeu pacientemente jornalistas de vários Estados. Como em dia típico de campanha, distribuiu autógrafos, beijos e posou para fotos. Não fugiu nem da Escolástica, drag queen famosa no Ceará. Entre muitos mimos, ganhou uma garrafa de Canjinjin, o "Viagra pantaneiro" e uma fita de Nosso Senhor do Bonfim, com direito a três desejos. Quais? "Não conto, senão não se realizam."