Título: Em reunião secreta com PT, Lula rejeita mudar equipe
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2005, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a sugestão feita pelos líderes, vice-líderes e coordenadores da bancada do PT na Câmara para que faça uma reforma ministerial como solução da crise surgida com a abertura da CPI dos Correios. Numa reunião secreta realizada na Granja do Torto, que começou às 21 horas e se estendeu até a uma hora, o presidente disse aos participantes que não há crise no governo nem no País. Como quase toda reunião secreta realizada em Brasília, esta também vazou. "Companheiro, não fale em crise. Isso quem fala é a oposição e a imprensa, que maximizam problemas. E a oposição, claro, tenta tirar proveito para a campanha eleitoral do ano que vem", disse Lula, assim que um dos parlamentares citou a palavra crise. O presidente disse ainda que não vê motivos para fazer uma reforma ministerial agora, porque isso daria à oposição argumentos para dizer que ele está com problemas de governabilidade. Antes, no entanto, em conversa com o PMDB, Lula sondou a cúpula do partido aliado para saber como o Senado reagiria à indicação de um novo presidente do Banco Central.

A reunião realizada na quinta-feira à noite, na residência oficial do presidente da República, tinha por objetivo tratar da relação entre o governo e a bancada de deputados petistas. O presidente queixou-se de que 14 deputados e um senador - Eduardo Suplicy (PT-SP) - assinaram o requerimento de convocação da CPI. Lembrou ainda que faltou a retirada de apenas 9 assinaturas para que a CPI não fosse aberta, mas que o PT, com as dissidências, acabou contribuindo para mantê-la viva.

Os petistas também tinham queixas. Disseram, por exemplo, que não entendiam o afastamento do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) da chapa do Campo Majoritário (que detém a maioria política e a qual pertence Lula). O presidente respondeu que esse era um problema da presidência do PT, e não dele. Em protesto contra a retirada de seu nome da chapa, Cardozo renunciou ao cargo de vice-líder anteontem.

Assim que soube do afastamento de Cardozo, o também vice-líder João Alfredo (CE) comunicou ao líder Paulo Rocha (PA) que deixaria o cargo. Alfredo foi um dos que assinaram o requerimento de abertura da CPI dos Correios.

GUSHIKEN

Nota divulgada ontem pelo ministro Luiz Gushiken sustenta que ele não defendeu a renúncia coletiva dos ministros do PT na reunião de segunda-feira à noite entre ministros petistas e o presidente do PT, José Genoino. Segundo a nota, o ministro explicou que, ao falar no encontro, mencionou apenas que uma recomposição da maioria no Congresso passaria por uma participação maior dos partidos aliados no governo.