Título: PF diz que quadrilha envolve 600 madeireiras
Autor: Nelson Francisco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2005, Nacional, p. A14

Pelo menos 600 madeireiras estão envolvidas com a maior quadrilha do País em crimes ambientais, segundo a Polícia Federal. Desde anteontem, 95 pessoas acusadas de integrar o grupo foram presas e estão sendo levadas para Cuiabá (MT). A Operação Curupira começou a ser montada há nove meses. Anteontem foram detidos o gerente-executivo do Ibama em Cuiabá, Hugo José Werle, o diretor de Florestas do órgão, Antonio Carlos Hummel, e o secretário especial de Meio Ambiente de Mato Grosso, Moacir Pires. A operação ocorre em 16 municípios de Mato Grosso, Distrito Federal e mais 5 Estados - Rondônia, Amazonas, Pará, Paraná e Santa Catarina. A ação faz parte de uma ofensiva do governo e do Ministério Público Federal (MPF) contra o desmatamento na Amazônia. Os bens de todos os envolvidos - funcionários públicos, madeireiros e despachantes - estão indisponíveis por determinação do juiz da 1.ª Vara Federal de Cuiabá, Julier Sebastião da Silva. A madeira retirada da Amazônia rendeu à quadrilha R$ 890 milhões. O grupo tinha um esquema de venda e falsificação de Autorizações para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs), documento do Ibama que comprovam a origem legal da madeira, ou seja, se ela vem de um desmate autorizado.

O procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio de Avelar, disse que há indícios de fraudes na Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema). "Nós temos dois depoimentos que apontam o comércio de licenças ambientais no órgão." O procurador também afirmou que os principais beneficiados pelo esquema de corrupção estão há décadas devastando o meio ambiente em proveito próprio. "O Ibama é apenas uma peça de uma organização criminosa comandada por pessoas que estão aí há 20 anos."

Só para recuperar a área devastada, o MPF, Polícia Federal e Ibama calculam que serão necessários R$ 108 milhões. A quadrilha teria desmatado 43 mil hectares - o equivalente a 52 mil campos de futebol - na Amazônia para retirar, ilegalmente, 1,9 milhão de metros cúbicos de madeira, que tinha como destino a Europa.

O presidente do Ibama, Marcus Barros, nomeou duas comissões para investigar as irregularidades no órgão em Mato Grosso. O interventor do Ibama, Elielson Ayres de Souza, disse que as comissões vão verificar a conduta de cada servidor. "As comissões são disciplinares e têm caráter sigiloso", frisou o interventor. Elielson disse também que há outras fraudes detectadas. "Estamos reunindo documentação para remeter ao Ministério Público, Polícia Federal e posteriormente para o Poder Judiciário."

Os envolvidos estão sendo indiciados por corrupção ativa e passiva, inserção de dados falsos em sistema de informações, prevaricação (quando funcionário público deixa de cumprir sua obrigação), falsidade ideológica e autorização indevida de desmate, entre outras acusações.

Fema e Ibama suspenderam por 30 dias as licenças ambientais. Projetos de manejo foram cancelados até que seja concluída uma auditoria nos dois órgãos.