Título: Não há líderes com quem negociar, diz analista
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2005, Internacional, p. A18

"O jogo não é muito claro, ninguém apresenta propostas viáveis e o governo tem se mostrado incapaz de estabelecer um diálogo", declarou ao Estado, o cientista político Roberto Lacerna, do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social de Cochabamba, manifestando seu pessimismo quanto à solução da atual crise boliviana. "Há poucos interlocutores para uma negociação. Os protestos que têm paralisado a Bolívia são produto de uma grande fragmentação política, uma situação muito mais complicada do que a polarização, na qual se opõem dois campos com propostas bem definidas." Lacerna ressalta que as cúpulas dos vários grupos de oposição, que têm as mais diversas reivindicações, são circunstanciais e precárias. "Com exceção do Movimento ao Socialismo (MAS) - um partido esquerdista com bancada representativa no Congresso e uma doutrina mais ou menos definida -, não há nenhuma força política consistente", analisa. "Os demais grupos têm organização suficiente apenas para mobilizar seus membros e levá-los às ruas para os protestos. Mas não têm unidade, seus interesses são diferentes e seus esforços são desarticulados."

Diante de um quadro tão volátil, explica o cientista político, o risco de uma explosão de violência é cada dia maior. "Entre os muitos grupos que se opõem ao governo há facções com profundas divergências entre si. Por exemplo, os camponeses indígenas da região andina, principalmente de La Paz e El Alto, opõem-se com veemência à demanda das províncias do leste, norte e nordeste - mais ricas e com mais potencial econômico - de obter maior autonomia em relação ao governo central. Essa divergência já resultou em episódios violentos no passado e é provável que causa novos choques daqui para a frente."