Título: Mapa do desenvolvimento
Autor: Armando Monteiro Neto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2005, Economia, p. B2

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou à sociedade, no dia 26 de abril, o Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015. O mapa estabelece um conjunto de objetivos, metas e programas que envolvem o desenvolvimento de instituições e de políticas fundamentais para liberar o potencial de crescimento da economia brasileira. E constitui também um inédito instrumento de gestão que vai permitir a correção de ações e o alerta à sociedade sobre os sucessos e fracassos em nossa rota até 2015. O mapa é fruto de um esforço de reflexão realizado no âmbito do Fórum Nacional da Indústria, órgão consultivo da presidência da CNI, criado em abril de 2003 para somar as forças da representação do empresariado industrial e das associações setoriais nacionais.

Ao longo de seis meses, desde agosto de 2004, cerca de 300 representantes do setor industrial se reuniram mais de 40 vezes para desenhar o projeto de um Brasil capaz de crescer a taxas expressivas e de propiciar um elevado padrão de vida à sua população, com uma economia competitiva e inovadora, inserida na sociedade do conhecimento e que seja base de uma das principais plataformas da indústria mundial.

O objetivo do mapa é encontrar o melhor caminho para superar os desafios econômicos e sociais do País. O Brasil que a indústria deseja para 2015 é bem diferente do que existe hoje, e o mapa estabelece essas diferenças em números. Há metas finais para todos os indicadores escolhidos ou criados para o acompanhamento do mapa - em alguns casos, há metas intermediárias também para 2010. O produto interno bruto (PIB) será de mais de US$ 1 trilhão, em valores de hoje, se o crescimento da economia alcançar a meta de 5,5% ao ano entre 2007 e 2010 e de 7% nos anos seguintes. Isso poderia colocar o Brasil entre as maiores economias do mundo, algo que já conseguimos na década de 1970.

O que vai garantir o crescimento não é o desejo nem a torcida da sociedade brasileira, mas o esforço para que outras metas se cumpram também. As taxas de juros e os spreads bancários devem cair e o volume de crédito, aumentar.

Com isso será possível às empresas investir em inovação e no aumento da produtividade. Resultados positivos nessas áreas permitirão o aumento das exportações. Dos atuais 18% do PIB, as vendas ao exterior devem subir para 22% em 2007 e para 30% em 2015.

O resultado do conjunto de metas não é o ideal, mas o possível. O mapa prevê para 2015 uma carga tributária de 27% do PIB, um patamar ainda alto. Nesse, como em outros pontos, o mapa leva em conta a complexidade da estrutura econômica e social brasileira. Além dos obstáculos de ordem política para reduzir a carga tributária, foi preciso considerar a necessidade de o Estado dispor de recursos para enfrentar os problemas estruturais do País.

A complexidade dos problemas exige estratégias diferenciadas para enfrentá-los, mas, se é possível resumi-la numa idéia-chave, essa seria uma revolução no sistema de educação e de geração e difusão de conhecimento. Tal revolução reside em ações voltadas para a elevação da qualidade da educação básica e na criação de condições para o desenvolvimento de um sistema de educação continuada flexível e de qualidade.

As metas e os indicadores do mapa da indústria compõem uma espécie de painel de controle à disposição do Fórum Nacional da Indústria e dos Conselhos Temáticos Permanentes da CNI. Trata-se de uma metodologia fundamentada na experiência de gestão de empresas de sucesso. Quem não mede não gerencia.

Mas sua implantação, com certeza, não dependerá de ações isoladas da indústria. E exigirá um movimento mais amplo, fundado em alianças, com a participação de diversos setores da sociedade. E com a atuação de governos que tenham o compromisso de avançar no processo de modernização do País.

A realização desse exercício de formulação estratégica teve duas inspirações. A primeira, uma reação à frustração com o desempenho global da economia brasileira nos últimos 20 anos. Crescemos menos do que podemos e necessitamos. Os próximos dez anos poderão ser diferentes e nós não desejamos perder essa oportunidade. A segunda inspiração é a da co-responsabilidade. O setor industrial brasileiro tem consciência do seu papel como ator político e entende que essa ação começa na identificação de seus sonhos. Só definindo o que desejamos e o que é essencial para o desenvolvimento da economia é que poderemos construir o processo político capaz de pôr em prática a agenda com que estamos comprometidos.