Título: Noticiário anima oposição a tentar xeque-mate na CPI
Autor: Christiane Samarco, Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2005, Nacional, p. A4

Embalados pelo noticiário do fim de semana, os líderes dos partidos de oposição na Câmara e no Senado articulam-se para dar um xeque-mate no Palácio do Planalto esta semana. "Ou bem o governo tem juízo e faz um entendimento conosco para que a CPI dos Correios funcione no Congresso, ou terá de enfrentar um inquérito mais amplo no Senado", advertiu ontem o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). "Esta semana o Planalto não escapa da CPI." Com a divulgação da fita em que o ex-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) Lídio Duarte acusa o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), de cobrar propina mensal de R$ 400 mil, a oposição convenceu-se de que a tese da CPI foi reforçada. Os líderes de PFL, PSDB e PDT antecipam que não aceitarão nenhuma manobra da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para adiar a abertura do inquérito. "Essa investigação do IRB é nitroglicerina pura. Vamos conseguir facilmente as assinaturas para fazer a CPI da mesada no Senado", diz Agripino.

A CCJ marcou para amanhã a votação do recurso que considera o pedido de investigação nos Correios "genérico e inconstitucional". Como a expectativa geral é de que o governo peça vistas do processo por mais duas sessões, o que na prática adia a decisão para a próxima semana, líderes da oposição anunciam desde já que não aceitarão a manobra.

Para pressionar os governistas, o líder do PDT, senador Jefferson Peres (AM), encerrou a sexta-feira com 21 das 27 assinaturas necessárias para criar a CPI exclusiva dos Correios no Senado. Ao mesmo tempo, o PFL já se articula para colher assinaturas para a CPI do IRB.

Mas a decisão de criar CPIs exclusivas no Senado só será tomada na quarta-feira, em reunião do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), com os líderes partidários. Na semana passada, Renan deixou claro que não apoiará nenhuma iniciativa do governo para protelar a decisão da CCJ e que a definição deverá ocorrer dentro do prazo "do bom senso". É com isto que o líder tucano na Câmara, Alberto Goldman (SP), está contando. Segundo ele, o maior trunfo da oposição é a certeza da abertura do inquérito contra a corrupção no Senado. "O Renan não vai cometer harakiri repetindo seu antecessor, José Sarney (PMDB-AP), que se recusou a indicar os nomes dos partidos aliados para compor a CPI dos bingos (que envolve o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz)."