Título: Jefferson vira maior problema do governo
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2005, Nacional, p. A5

A troca de papéis do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) no governo de Luiz Inácio Lula da Silva parece irreversível. Depois de atuar até o mês passado como um dos pilares da base de sustentação do governo no Congresso, ele se transformou na sua grande dor de cabeça. A cada dia que passa surgem mais suspeitas de envolvimento do deputado petebista em episódios de corrupção, nas mais diferentes esferas dos negócios públicos. A mais recente delas apareceu em reportagem da revista Época deste fim de semana. De acordo com informações apuradas pela revista, Jefferson teria usado um laranja, um pequeno comerciante de Cabo Frio, para obter a concessão de duas emissoras de rádio no Estado do Rio, durante o governo do presidente José Sarney. Foi a terceira vez, em menos de um mês, que o nome dele brilhou em manchetes nada edificantes.

A primeira foi no caso da fita de vídeo em que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Materiais dos Correios, Maurício Maurinho, aparecia recebendo uma propina de R$ 3 mil. Verificou-se que ele tinha sido indicado por Jefferson para o cargo e que a propina era cobrada em nome do PTB, partido presidido pelo deputado.

COBRANÇA DE MESADA

Logo em seguida estourou o escândalo do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Lá, outro diretor indicado por Jefferson também estaria por trás de um suposto esquema de cobrança de mesadas para o PTB.

Quando a oposição saiu a campo para a criação de uma CPI destinada apurar as denúncias, o governo defendeu o aliado. O presidente da República manifestou-se pessoalmente, diante de líderes políticos, dizendo que ninguém deveria prejulgar Jefferson e que "agora ele vai poder ver quem são seus verdadeiros amigos".

Resta agora saber qual o limite da amizade do presidente. Jefferson, que participou da "tropa de choque" contra o impeachment do ex-presidente Fernando Collor e costuma apoiar quem está no poder, cobrou caro para fazer parte da base parlamentar do governo Lula. Tendo entre seus interlocutores diretos no Planalto o chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, ele conseguiu indicar nomes de apadrinhados para vários e importante cargos de direção em diferentes estatais.

O presidente do PTB tem homens encastelados nas diretorias da Embratur, Caixa Econômica Federal, Eletronuclear, BR Distribuidora, Eletronorte e Instituto de Resseguros do Brasil. Além das estatais, o braço longo de Jefferson também teria arrastado cargos de direção em órgãos públicos, como a Delegacia Regional do Trabalho no Rio e a Agência Nacional de Saúde Suplementar. No conjunto, de acordo com levantamento divulgado ontem pelo jornal O Globo, seus apadrinhados seriam responsáveis pela gestão de aproximadamente R$ 4 bilhões por ano.

É quase certo que a partir de agora oposição comece a olhar com suspeita para o desempenho deles em todas as estatais - além dos Correios e do IRB, que já estão sendo investigados pela PF e podem acabar no vórtice do redemoinho da CPI.

LENHA PARA A ESQUERDA

No interior do PT, as denúncias de corrupção envolvendo um dos principais aliados de Lula, que em março chegou a posar de conselheiro político do Planalto no episódio da malfadada reforma ministerial, vão servir de lenha na fogueira dos setores à esquerda do partido.

Eles sempre criticaram a política de alianças do governo e amargaram derrotas que não esquecem. Um dos casos mais significativos foi a queda de braço na indicação do delegado regional do Trabalho no Rio.

Os indicados pelo PT eram o presidente do Sindicato dos Advogados, Wadih Damou, que contava com o apoio de parlamentares da ala esquerda; e o sindicalista Adeilson Telles, da Articulação Sindical.

Mas o Planalto optou pelo nome apadrinhado por Jefferson, Henrique Barbosa de Pinho e Silva - que está sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal num caso de suspeita de prevaricação.