Título: O marco zero de uma nova Luz
Autor: Iuri Pitta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2005, Metrópole, p. C1

Começa este mês a reforma de 120 dias da Praça Coronel Fernando Prestes, na Luz. Mais do que recuperar a função original do local - que deixará de ser estacionamento e voltará a ter o pedestre como foco principal -, a obra marca o início pleno em São Paulo do Programa Monumenta, cujo objetivo é recuperar o patrimônio histórico de cidades do País. Toda a região da Luz é contemplada pelo projeto, num total de 26 imóveis e locais de interesse. O objetivo é transformar essa área em referência para a cidade. Região mais rica em patrimônio histórico, a Luz tem alguns dos mais importantes museus de São Paulo, mas não é reconhecida nem pela população nem pelos turistas. A idéia é pôr em prática ações que integrem os imóveis e convençam o paulistano de que a Luz tem potencial para ser em São Paulo o que, por exemplo, o Pelourinho é para Salvador: um lugar para passear e atrair turistas.

Não é tarefa fácil. Praticamente toda a história de São Paulo está lá, em vários sentidos: a arquitetura colonial do Mosteiro da Luz e do Museu de Arte Sacra, a riqueza do café, que financiou as estações de trem, a decadência de ruas que compõem a Cracolândia. Na frente da bela Sala São Paulo, a Praça Júlio Prestes continua sendo um local pouco convidativo. E andar pelas ruas da Luz é um teste de persistência. "Como é que faz para ir à Sala São Paulo?", perguntava a estudante mineira Priscilla Francisco, na semana passada, em frente da Pinacoteca, em busca de uma resposta que placas de sinalização turística facilmente dariam.

"Já há investimentos na recuperação de prédios históricos. Agora é integrar, melhorar o espaço público, a rua, a praça", explica Heloisa Proença, presidente da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), responsável por tocar as obras da Prefeitura.

O Monumenta é um programa do governo federal financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que beneficia 26 cidades. Cabe às prefeituras executar as obras. Em São Paulo, o Estado, dono de imóveis tombados envolvidos no programa, financiou o plano de obras. Assim, dos R$ 20 milhões previstos para o projeto, o BID custeou metade, restando 20% à União, 15% ao Estado e 15% à Prefeitura.

"São Paulo tem a mais baixa taxa de execução no Brasil. Precisava começar a tocar obras, sob risco de perder o convênio", diz o coordenador nacional do Monumenta, Luiz Fernando de Almeida. A explicação é simples: para a capital, os R$ 20 milhões (ou US$ 8 milhões na época de assinatura do acordo) são uma quantia pouco significativa, frente aos US$ 100 milhões obtidos do mesmo BID para recuperar todo o centro. Apesar de o convênio ter sido assinado em 2002, até agora só foi feita a pintura da chaminé da Luz, no ano passado.

"O programa vai começar para valer agora", aposta o arquiteto Nelson Dupré, responsável pelo projeto da Sala São Paulo e indicado para coordenar o programa pelo Estado. "As ações de revitalização não podem ser isoladas e também precisam de trabalhos sociais."

"Iniciativas como essa, associadas a operações como a da Cracolândia, têm um norte: mostrar à população que o espaço público não é terra de ninguém, mas de todos os cidadãos", diz Heloisa.