Título: Bancos estão de olho em cliente de supermercado
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2005, Economia, p. B3
O consumidor que entra no supermercado para a compra semanal ou do dia-a-dia é o novo alvo dos bancos. A idéia, que já vem sendo testada pelas instituições financeiras, é que, além de alimentos, produtos de limpeza e higiene, os consumidores levem para casa seguros, títulos de capitalização, planos de consórcio e outros produtos bancários, usualmente ofertados nas agências. A parceria de bancos com o varejo, que já permite às caixas registradoras dos supermercados aceitarem o pagamento de contas de água, luz, telefone e boletos de cobrança - no chamado serviço de correspondente bancário -, se amplia aos poucos. "O público dos supermercados é extremamente estratégico para os bancos", diz o diretor executivo de novos negócios do Banco Real, Eduardo Nassipe. Hoje, segundo ele, no sistema bancário brasileiro, 30% de todos os recebimentos de água, luz, telefone e boletos são provenientes dos correspondentes bancários.
"É um avanço significativo e a tendência é de crescimento na oferta de serviços. O supermercado é um foco de negócios." No Real, o correspondente bancário representa de 6% a 7% dos recebimentos e o banco começou a testar a venda de títulos de capitalização. Se o resultado for o esperado, eles serão oferecidos para pequenas redes de supermercados a partir deste mês. A intenção é atingir principalmente o interior e o público de baixa renda, que não tem conta corrente e pouco freqüenta bancos. Também está nos planos do Real a venda de consórcios de motos e veículos nos supermercados.
A Caixa Econômica Federal com 13 mil pontos de correspondente bancário, 3.500 só de supermercados, avalia em Brasília um projeto para oferecer cartão de crédito e abertura de conta corrente. "Se ele for aprovado, no segundo semestre vamos expandir o projeto", diz o gerente nacional da Caixa, Flavio Antonio de Camargo Barros. Ele já tem prontos planos para a venda de títulos de capitalização e seguros que dependem de aprovação interna.
"A parceria entre instituições financeiras e supermercados é atrativa porque cria para os bancos um canal alternativo de atendimento. Significa também para os supermercados a oferta de um serviço para o consumidor e um maior fluxo de pessoas na loja", diz o diretor do Bradesco, André Rodrigues Cano. O banco por enquanto tem acordos fechados em 1.200 lojas de supermercados para serviços de correspondente bancário, mas planeja para o segundo semestre começar a vender títulos de capitalização, seguros e oferecer até a abertura de contas.
Na Apas 2005, feira anual de supermercados e serviços, realizada no mês passado, que movimentou mais de R$ 3 bilhões em negócios, os bancos marcaram presença. "Até alguns anos atrás os expositores eram apenas as indústrias de bens de consumo. Hoje os bancos participam porque têm interesse estratégico no nosso negócio", diz o presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Sussumu Honda.
A Losango, por exemplo, financeira do HSBC, assinou um acordo com a Apas para oferecer um cartão de crédito aos supermercados associados que incorpora financiamento, seguro e saque 24 horas. O foco são as classes C e D. "O produto é voltado às pequenas empresas sem condições de arcar com os custos de um cartão tradicional", diz o diretor de cartões da Losango, Leandro Vilain.
Nos supermercados de pequeno porte o que predomina ainda é o correspondente bancário. "É útil para o consumidor e traz receita para o supermercado", diz o presidente do Sincovaga, entidade que representa os estabelecimentos pequenos, Wilson Tanaka. A cada operação efetuada, o supermercado recebe de R$ 0,10 a R$ 0,35 do banco. "Dependendo do movimento da loja, a receita é razoável." Um supermercado com quatro caixas registradoras, exemplifica, recebe de 1 mil a 1,5 mil pessoas por dia. "Se 10% usarem o serviço de correspondente bancário, o retorno já é interessante para a loja."
Nas médias e grandes redes, o ganho é bem maior. A Coop, com 22 pontos-de-venda, no ABC e interior de São Paulo, realiza mais de 80 mil operações por mês de pagamentos de água, luz, telefone em parceria com o Bradesco. A empresa também tem acordo com a Aon Affinity do Brasil para vender seguros nas lojas.
O Grupo Pão de Açúcar/CBD, além do correspondente bancário, vende cartão de crédito, seguros e crédito direto ao consumidor (CDC). Na parceria acertada com o Itaú, em 2004, a rede decidiu ampliar serviços. No segundo semestre deverá estar pronta para oferecer empréstimo pessoal, nas lojas da financeira Itaú CBD, que vão funcionar no próprio supermercado