Título: Inflação agita semana pré-Copom
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2005, Economia, p. B4

A semana será marcada pelas especulações sobre o rumo dos juros e das cotações do dólar. No mercado de juros, porque é a semana que antecede a da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 14 e 15, e está coalhada de indicadores de inflação que serão divulgados nos próximos dias. "Os dados de inflação vão pautar os negócios nos mercados nesta semana", comenta o vice-presidente executivo de Tesouraria do Banco WestLB do Brasil, Flávio Farah. O principal indicador é a inflação de maio pelo IPCA, referência da política de metas de inflação do Banco Central, que será conhecido na sexta-feira e está estimado em 0,49% pelo WestLB, ligeiramente abaixo do projetado pelo mercado, entre 0,53% e 0,55%. Outros dados de inflação também alimentam ansiedade no mercado financeiro. Hoje será divulgada a pesquisa Focus, com novas previsões de inflação do mercado, e o IPC-S de maio; na quarta-feira, a inflação de maio pelo IGP-DI; e na sexta, a primeira prévia do IGP-M de junho e o IPC-Fipe da primeira quadrissemana do mês.

Farah comenta que há um aumento de interesse pelo IGP e IGP-M porque esses indicadores, fortemente influenciados pela queda do dólar e dos preços das commodities, estão surpreendendo. O IGP-M de maio, divulgado na semana passada, apontou deflação de 0,22%. "O repasse (da baixa dos preços no atacado estampada nos IGPs) ao consumidor está bastante lento, mas deve se refletir também em melhora nos índices de preços ao consumidor (IPCs)."

Outro evento importante no cenário doméstico, aponta Farah, é a divulgação dos dados da produção industrial de abril pelo IBGE amanhã. A previsão do mercado é um recuo de 0,2% em relação a março e crescimento anualizado de 6% nos últimos 12 meses. Os dados de atividade combinados com os de inflação que serão anunciados podem dar uma idéia mais clara da decisão que o Copom poderá tomar na próxima semana.

O executivo do WestLB prevê a manutenção da taxa básica em 19,75% ao ano, com o fim do ciclo de elevação iniciado há nove meses, em setembro, sobretudo por causa dos dados do PIB do primeiro trimestre (expansão de apenas 0,3%) e principalmente dos referentes ao consumo de famílias. "No nível em que está, o juro é suficiente para a convergência da inflação à meta no longo prazo."

Outro foco de atenção, aponta Farah, será o câmbio, com o aumento das discussões sobre o nível de reservas e a possível volta do BC ao mercado como comprador de dólares. A expectativa de retomada das intervenções foi reforçada, semana passada, pelas declarações de integrantes da equipe econômica sobre o câmbio e nível de reservas, mas o mercado suspeita que elas ocorreriam quando houver forte fluxo na conta financeira. Em maio, o fluxo nessa conta apurou saldo negativo de US$ 811 milhões, possivelmente pelo grande volume de remessa de dividendos.

Farah comenta que o BC tem muito claro a prioridade no combate à inflação e, intencional ou não, o dólar baixo tem sido útil nessa tarefa. "Mas, mais do que com o nível da cotação em si, a grande preocupação é com a rapidez com que o dólar vinha recuando."