Título: 'Olhamos para dentro e vimos fatos graves', diz presidente do Ibama
Autor: Ijalmar Nogueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2005, Nacional, p. A10

Alvo da crítica ácida dos ambientalistas depois da recente divulgação do desmatamento recorde na Amazônia, o Ibama passou pelo trauma de ver funcionários presos pela Polícia Federal na Operação Curupira, a maior já realizada no País contra crimes ambientais. O próprio presidente da instituição, Marcus Luiz Barroso Barros, encaminhou à Polícia Federal o dossiê recheado de denúncias que levou a 129 mandados de prisão, inclusive contra funcionários do órgão, vários deles já presos. "O Ibama olhou para dentro de si e viu fatos graves e corrupção", confessa Barros nessa entrevista ao Estado. Sua avaliação, no entanto, é de entusiasmo e otimismo, mas acha que é preciso sangue novo para controlar o "vírus" que contamina funcionários.

OLHAR PARA DENTRO

"É muito importante que se diga que essa é uma operação do Ibama. O Ibama olhou para dentro de si, viu fatos graves de corrupção, comprovou, coletou todas as provas e procurou Polícia Federal e Ministério Público para a outra parte da operação, que é a execução. Isso porque o Ibama não tem função policial. Estamos de fato instituindo uma nova atividade de inteligência na área ambiental, que vai municiar as nossas ações, com um perfil de rede, informação sobre a questão ambiental, jamais excluindo o próprio Ibama, como fizemos nessa operação."

CORTE NA CARNE

"Não estamos e não iremos livrar ninguém, nós cortamos na carne. O corpo técnico do Ibama é de alto padrão. Há dois anos recrutamos, por concurso, 610 analistas ambientais. Isso foi um princípio de renovação muito interessante, porque o Ibama é uma instituição de formação simples. Surgiu da aglutinação de quatro grandes ilhas para que se criasse uma política ambiental. Eram instituições de diferentes áreas que foram extintas. A estrutura física veio do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Foi difícil unir essas quatro ilhas e formar uma só. Persistiram os espíritos daquelas instituições. Mas vamos contratar mais cerca de mil outros técnicos até o fim do ano. Será como uma transfusão de sangue."

PODER ECONÔMICO

"No Ibama há relação muito grande com o poder econômico. O gerente em Mato Grosso (Hugo José Werle, preso pela PF) é um professor universitário, escolhido pelo currículo. Ele sofreu contaminação do vírus. Tinha R$ 76 mil em seu Imposto de Renda e foi para R$ 462 mil de dois anos para cá. Antes ele só vivia com R$ 76 mil. Foi um dos motivos da prisão dele. Há essa possibilidade de contaminação. Estamos tentando controlar, não gosto muito da palavra erradicar porque é arrogante e pretensiosa. Estamos procurando controlar. E esse controle é parte dessas ações. Estamos fazendo uma transfusão, mas não eliminamos a bactéria que produz a infecção."

RISCO DE VIDA

"A política maior do Ibama, em razão desse contato com o poder econômico, exige que melhoremos a comunicação entre a sede e os escritório distantes, onde os nossos servidores, às vezes, são obrigados a se corromper até por pressão do poder econômico, sob risco de vida."

PARCERIAS

"A primeira coisa a fazer é trazer da Amazônia quem vai fazer a gestão, quem conhece a região. É o meu caso. Eu vim de lá, do Rio Juruá. Essa sensibilização é importante. A outra é uma aproximação que estabeleça relação direta de conhecimento. Hoje nós conversarmos da sala de reuniões do Ibama com o gerente de Irumeté, do Alto Juruá, através dos meios de comunicação. Essa aproximação faz com que eles não se isolem tanto. E essa questão da política ambiental é tão multifacetada que teremos de combater o desmatamento junto às Forças Armadas."