Título: Indefinição da Justiça irrita eleitores de Mauá
Autor: Mariana Caetano, Liège Albuquerque, Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2005, Nacional, p. A12

Moradores de Mauá, no Grande ABC, mostram-se indignados com a demora da Justiça na resolução da briga travada pelos candidatos mais votados na última eleição, Márcio Chaves (PT) e Leonel Damo (PV). Os dois duelam nos tribunais pelo direito de assumir o posto de prefeito ou de disputar eventual segundo turno. Por causa do impasse, o presidente da câmara municipal, Diniz Lopes dos Santos (PL), segue interinamente no comando da cidade. Sua administração é considerada um problema menor pelos mauaenses diante da longa indefinição. Apesar de divergirem sobre a melhor solução, reclamam do atraso na decisão sobre os rumos da cidade. "Politicamente acho indiferente a administração de Diniz ou a de outro. Mas falta o respaldo popular", diz o empresário Márcio Geraldo de Oliveira. "Não tenho como cobrar dele, não é o prefeito eleito", conclui, revelando que seu voto não foi para nenhum dos dois candidatos.

Um grupo de colegas de trabalho faz coro: sentem-se "lesadas" por terem escolhido Chaves e os votos acabarem anulados por decisão judicial. "É como se não fôssemos eleitoras, como se não tivéssemos votado", diz Priscila Félix. "Não foi opção. O prefeito está, mas não é o que o povo quer", complementa Keyla Michele. "Meus direitos foram violados, isso não é democracia", arremata Regiane. Um grupo de jovens defende nova eleição, com vários candidatos. Uma delas, Kelly Cristina, tenta elogiar a administração do prefeito em exercício, citando ações de Diniz, como a de andar pela cidade e receber semanalmente moradores na prefeitura para ouvir os problemas. Mas é logo interrompida pelas amigas. "É marketing, está pensando na próxima eleição", dizem. Intimidada, Kelly ainda defende Diniz: "Se continuar assim e cumprir o que está prometendo, voto nele."

Elda Barbeiro, de 62 anos, torce para "que a cidade dê certo, seja com quem for". Mas avalia negativamente os poucos meses de Diniz à frente da prefeitura. "Mauá está abandonada, mudou para pior." Elda votou em Chaves e sugere à Justiça "que respeite a vontade do povo".

Partidário de Leonel Damo, Daniel Vieira da Silva considera toda a disputa "uma pouca vergonha". Também não reconhece Diniz como prefeito e defende que seu candidato seja empossado prefeito.

ENVOLVIDOS

Diniz Lopes dos Santos se diz alheio ao imbróglio jurídico e afirma cumprir o que determina a Constituição. "Consegui implantar a democracia nos atos públicos, convoquei a participação popular e diria que hoje Mauá é praticamente parlamentarista, única cidade em que trabalham em harmonia os Três Poderes", explica. Questionado se estava preparado ou tinha um plano de governo, listou sua vida pública. "Fui funcionário público por 14 anos, é meu terceiro mandato como vereador, conheço o povo e a cidade." Diniz foi o nono colocado dos 17 vereadores de Mauá, com 3.619 votos.

Márcio Chaves se sente injustiçado com a cassação por suposto beneficiamento institucional. "Quem deveria responder era o então prefeito, Osvaldo Dias, e seu secretário de governo. Eles receberam multas leves, e eu, a pena máxima. No artigo em que fui condenado não poderia configurar minha inelegibilidade." Alfineta Diniz, dizendo-se preocupado com o fato de o prefeito em exercício "não ter responsabilidade a longo prazo" com a cidade.

Apesar de reconhecer que Diniz, por ser candidato a vereador, não tem um plano de governo, Leonel Damo vê no prefeito em exercício um bom administrador. "Ele está trabalhando bem." Damo imaginava uma decisão mais rápida e afirma que tanto ele quanto Chaves saíram prejudicados por não poder implementar seus projetos desde o início da gestão. Espera uma decisão em até 30 dias e, se necessário, se diz preparado para disputar o segundo turno com Chaves.