Título: Lula: 'E aí, quando caem os juros?'
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2005, Economia, p. B1

"E aí, quando caem os juros?" Essa foi a cobrança ouvida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira, segundo relato de um freqüentador do gabinete presidencial. "Vocês vivem dizendo que a taxa de juros vai baixar, mas não baixa nunca." Palocci teria, então, explicado a Lula que a inflação só agora dá sinais de arrefecer. Portanto, o juro deve parar de subir. Esse é o presidente que se vê nos bastidores, em contraste com o defensor enfático da política econômica que se vê em público. Segundo interlocutores palacianos, Lula vem cobrando de Palocci a adoção de outros meios para conter a inflação, além de elevar a taxa de juros, como vem ocorrendo há nove meses. Lula estaria cada vez mais impaciente com os efeitos negativos dessa estratégia.

A conversa entre Lula e Palocci ocorreu no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a riqueza nacional, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), cresceu apenas 0,3% no primeiro trimestre, na comparação com o último trimestre de 2004. O dado detonou uma carga de "fogo amigo" contra a política econômica e deu assunto para a oposição.

Os estrategistas do governo decidiram, então, atacar o problema em duas frentes. A primeira tenta reverter a principal preocupação do presidente: que o clima ruim contamine as expectativas dos empresários e investidores, o que poderia produzir dados ainda piores mais à frente.

Assim, o governo optou por "colocar nas ruas os representantes da equipe econômica para mostrar indicadores positivos que existem e também para justificar que o ritmo mais fraco do nível de atividade era necessário nesse momento para garantir queda da inflação e sustentabilidade do crescimento no médio prazo", diz uma fonte do governo.

Simultaneamente, está sendo costurado um esforço político mais intenso para avançar com a chamada agenda positiva no Congresso, voltada para os investimentos. Nesta semana, Palocci deverá retomar as discussões em torno da chamada "MP do Bem", com medidas que desoneram investimentos produtivos. Além disso, estuda-se uma proposta de reduzir a carga de impostos sobre produtos de consumo popular. A idéia é utilizar o excesso de arrecadação para beneficiar setores estratégicos para o governo.

"Isso já vinha sendo discutido há algum tempo e, agora, ganhou força", afirmou uma fonte do Palácio do Planalto, ressaltando a preocupação do presidente com a queda do consumo das famílias verificada nos dados do PIB.

A estratégia de se contrapor aos discursos negativos envolveu Palocci, seus secretários e diretores do BC - que normalmente ficam fora da polêmica das decisões do Comitê de Política Monetária. "Temos bons indicadores na economia. A dívida pública e a área fiscal vão bem, a inflação começa a ceder. Não se pode deixar passar a idéia de que, de repente, a economia entrou em recessão", argumenta uma fonte do governo. "É preciso tranqüilidade para evitar o clima de que tudo piorou", diz Paulo Levy, coordenador de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento. "O custo de cruzar os braços para a inflação agora e deixar para combatê-la depois pode ser maior lá na frente."