Título: Reino Unido pode perder sua última fábrica
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2005, Economia, p. B10

A British American Tobacco (BAT), segundo maior grupo de tabaco do mundo e dono da Souza Cruz brasileira, está considerando a possibilidade de fechar sua última fábrica de cigarros no Reino Unido, em Southampton, o que resultará na eliminação de 800 empregos. Na semana passada, a empresa informou que transferirá apenas 25% da produção para a fábricas em Cingapura e na Coréia para ficar mais perto dos mercados no Leste Asiático, onde as vendas de tabaco estão crescendo mais rapidamente.

A BAT, porém, acrescentou que a perda de empregos no Reino Unido é inevitável e haverá uma reformulação completa de toda a produção e de outras instalações em Southampton.

Iain MacLean, do sindicato de fabricação Amicus, disse: "Isso é uma enorme ingratidão para com os empregados leais da BAT em Southampton e qualquer perda de empregos será um golpe devastador para a economia local porque esses são empregos bem pagos, que exigem trabalhadores altamente capacitados, que a cidade não pode se dar ao luxo de perder. Queremos garantias sobre o futuro da fábrica e nos oporemos a demissões compulsórias".

Allan Short, diretor de Operação da BAT no Reino Unido, disse: "Os custos de produção no extremo leste são muito mais baixos e as fábricas de Cingapura e Coréia estão muito mais próximos dos mercados de destino". A BAT, que fabrica marcas como Pall Mall, Lucky Strike e Dunhill, não descartava o fechamento total da fábrica de Southampton, uma das maiores do grupo.

A fábrica foi modernizada em 1992, ganhando capacidade para operar 24 horas por dia e fabricar 40 bilhões de cigarros por ano. Atualmente, porém, não opera mais à noite e faz apenas 25 bilhões de cigarros por ano. Retirar da produção 6,2 bilhões de cigarros fará com que a fábrica opere abaixo da metade de sua capacidade - um nível que tende a ser encarado como tornando o local pronto para fechamento.

Em março, o diretor-presidente, Paul Adams, disse que a BAT vai acelerar um programa de cortes e fechamentos nas 65 fábricas do grupo no mundo inteiro. E deu a entender que os mais prováveis alvos dessas medidas são 16 fábricas da Europa ocidental, que estão funcionando abaixo da sua capacidade e, mais importante, cercadas por mercados em declínio.

Embora as vendas da BAT venham convivendo com um lento e persistente declínio na maioria das economias maduras do mundo, a empresa tem apresentado um forte volume de vendas em economias emergentes e em desenvolvimento, como Paquistão, Rússia e Turquia. Adams deixou claro que há uma considerável economia de custos na transferência da produção para locais mais próximos desses mercados em crescimento.

Analistas da Dresdner Kleinwort Wassertein estimaram, "por adivinhação", que a economia na cadeia de suprimento poderá chegar a US$ 180 milhões de libras em 2007. Isso além do programa em andamento para reduzir, nos próximos dois anos, os custos fixos, entre US$ 360 milhões e US$ 550 milhões. Desde 1999, a BAT já fechou duas fábricas na Inglaterra, com a demissão de quase mil funcionários .