Título: E a internet salvou sua alma
Autor: Fred Melo Paiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2005, Aliás, p. J8

Suplicy é um gagá bundão. Político sem opinião? E ainda fica querendo tirar o dele da reta, dando uma de honesto. Seus eleitores lembrarão disso, senador (com s minúsculo).* "Logo que começou a coleta de assinaturas para a instalação da CPI dos Correios, o movimento de opinião pública para que assinássemos seu requerimento foi muito forte. Nós, deputados e senadores, pudemos sentir a indignação de todos. Hoje, com a internet, recebemos muitas mensagens. Aquilo mexia comigo.

"Na sexta-feira retrasada, falei com os meus alunos da Fundação Getulio Vargas que estava vivendo um grande dilema e gostaria de contar a eles. Então relatei quais eram os argumentos do PT para que não assinássemos o requerimento da CPI dos Correios. Expliquei também quais eram os meus argumentos. No final, quem recomendava que eu não assinasse o pedido? Zero.

É uma pena ver o Suplicy se acovardar. É de perder as esperanças. O problema do senador é o enorme peso que ele carrega em sua cabeça.

"Na terça-feira à noite, enviei uma carta ao presidente Lula, que estava na Coréia. Querido presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Considero que assinar o requerimento de CPI constitui a melhor maneira de ajudar o seu governo e o nosso partido. (...) Sei que minha voz é minoritária na direção do PT,que apoiou por maioria a orientação de que não deveríamos assinar. (...) Percebo que jamais a direção esteve tão distante da vontade popular e de tantas pessoas que nos deram a maior força em toda a nossa trajetória desde 1980. (...) De ontem para hoje, recebi 63 e-mails com mensagens qualificadas recomendando que eu deveria assinar e apenas 4 para não assinar. Enquete na minha home page do Senado até agora indica 75,76% para assinar, 16,16% para não assinar e 8,08% não sabe.

Lamentável!!! Ainda vai escrever para o filósofo do ABC se aconselhando. O melhor que o senador pode fazer por ele mesmo é se trancafiar num monastério.

Esperteza. O senador Suplicy assinou carta ao presidente Lula, mas não teve coragem de assinar o requerimento da CPI. Está ficando de miolo mole.

"Na mesma noite em que mandei a carta ao Lula, fui à Embaixada da China, onde tinha um jantar. Lá estavam uns 11 ou 12 senadores. Ocorreu ali um diálogo muito animado do senador Ney Suassuna (PMDB-PB) descrevendo, com bom humor, como funcionavam o PT e as suas tendências. Falava ele das dificuldades do governo, que assumia compromissos com alguns senadores, mas demorava muito em cumprir esses compromissos - tais como designar pessoas, seja para aquela empresa ou para aquele ministério, e assim por diante. O detalhamento da conversa foi de tal ordem que a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) virou-se para o Cristovam Buarque (PT-DF) e disse: 'E nós não sabemos dessas coisas...' Esse episódio mexeu comigo.

"Na manhã do dia seguinte, tivemos a reunião da nossa bancada no Senado. Seis de nós considerávamos que era importante assinar o requerimento da CPI mesmo contrariando a decisão do Diretório Nacional. Mas éramos minoria - 6 contra 7. Nessa reunião, o Aloizio Mercadante avaliou que, dada a nossa convicção, quem sabe pudéssemos então deixar um documento assinado a favor da CPI para que o líder o entregasse poucos instantes antes da meia-noite - mas ele só o faria no caso de já ser impossível impedir a CPI. Ou seja, não sendo bem-sucedida a retirada de assinaturas na Câmara, que pretendia baixar para menos de 171 os nomes dos que apoiavam a sua instalação. No final da reunião, o presidente Lula telefonou da Coréia para o Mercadante. Ele conversou com o presidente por cerca de 15 minutos. Relatou o que tínhamos debatido, ouviu algumas ponderações.

É tudo farinha do mesmo saco!!! Ohhh, picaretagem!!!

"No meio da tarde, o senador Paulo Paim (PT-RS), muito preocupado com o dilema que estávamos vivendo, ponderou: quem sabe pudéssemos levar adiante aquela proposta do Mercadante? Nós seis queríamos muito assinar a CPI. Seria uma saída honrosa. Então consultamos os outros e resolvemos preparar o documento. Eu mesmo tomei a iniciativa de pedir ao meu gabinete para prepará-lo. Colhi as assinaturas de Paulo Paim, Cristovam Buarque, Serys Slhessarenko, Flávio Arns (PT-PR), Ana Júlia Carepa (PT-PA). Fiquei responsável por entregá-las perto do final da sessão. Quando decidimos por esse caminho, avisamos por telefone o Aloizio Mercadante e o (líder do PT no Senado) Delcídio Amaral. Era por volta de 5 da tarde. O Delcídio chegou a me alertar: 'Mas será que não ficará mal para vocês assinar um documento só para a hipótese de ficar inevitável a realização da CPI?' Essa ponderação mexeu comigo - e contribuiu para a decisão que eu iria tomar logo mais.

"O debate sobre o tema continuou quente a tarde toda, com repercussões muito fortes. No blog do jornalista Ricardo Noblat, a notícia de que iríamos respeitar a decisão do PT vinha acompanhada de 40 comentários. Todos eram altamente destrutivos à minha pessoa. Aquilo me machucou muito.

Quer dizer então que se o partido pedir para o Suplicy pular num buraco ele pula? E a dignidade? E a história, senador? Seu conceito como homem público não merece ser enlameado para defender o Roberto Collor Jefferson e seus picaretas, e nem os caprichos do Zé Waldomiro Dirceu.

O senador me parece bonzinho, sem personalidade, e me parece um bobão. Está faltando a garra de um Matarazzo nas veias.

"Por volta de 6h30 da tarde, o senador Pedro Simon subiu à tribuna. Relembrou como era forte o PMDB nos tempos de MDB e mesmo de PMDB. Era uma ocasião em que o povo considerava muito o partido de Ulisses Guimarães, de Teotônio Vilela e tantos outros. Mas, aos poucos, o PMDB foi contemporizando e aceitando procedimentos que fizeram com que diminuísse muito sua credibilidade. Com seu discurso, Simon transmitiu a nós, senadores do PT que estavam lá, um conselho de amigo: 'Não deixem ocorrer com o PT o que aconteceu com o PMDB'. Aquilo me tocou.

"O senador Pedro Simon era o penúltimo orador. Eu era o último. Quando ele foi falando aquilo, eu fui raciocinando e cheguei à conclusão. Num aparte, disse a ele que iria falar em seguida e tomar uma decisão. Fui até o Paulo Paim e entreguei a ele o documento que estava comigo: 'Olha, Paulo, fica com você, porque vou tomar a decisão agora de assinar o requerimento'. Ele então se sentou ao lado do Cristovam Buarque. Eu subi à tribuna e falei olhando para eles - como que os instando a tomar igual posição.

Assina!!! Eduardo, eu amo você, viu?

Bravo senador Eduardo, vamos em frente. Assinou!!!!!

"Quando desci da tribuna, fui até o Paulo Paim e o Cristovam Buarque. Recomendei que fizessem o mesmo. Mas eles avaliaram que, não estando presentes os outros três que assinaram o documento, ficaria difícil. Estavam sentidos comigo. Em seguida, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) e o senador Delcídio Amaral me telefonaram. Lamentaram muito a minha decisão. Ficaram aborrecidos.

Ê, Cristovam, roeu a corda, véio! Nunca mais terá meu voto.

Quem nasceu pra Zé Dirceu nunca chega a Suplicy!

"Na última terça-feira, na reunião da bancada, praticamente todos os senadores expressaram o seu descontentamento comigo. De uma maneira sincera, leal, amiga, respeitosa. Procurei fazer ver a eles que era a atitude mais condizente com o que havia me feito entrar para o PT.

"Em 1979, o governo tinha persuadido mais da metade do MDB, do qual eu fazia parte, a passar para o seu lado na Assembléia Legislativa de São Paulo. Eu, tendo sabido dos métodos utilizados para tal, resolvi que era importante dizer isso publicamente. Diversos dirigentes do MDB, como Ulisses Guimarães, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, pediram que eu não o fizesse, para que não se quebrasse a unidade do partido. Foi então que fiz uma visita à diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, cujo presidente era o Lula. Contei a eles sobre os fatos de que eu tinha tomado conhecimento. Disse que o pessoal do MDB estava recomendando que eu não falasse disso na tribuna, e que estava ali para saber o que eles achavam. Eles me responderam: 'Eduardo, nós o ajudamos a ser deputado estadual exatamente para que contasse as coisas como elas são'. Fui para a Assembléia e falei. Depois eles me convidaram para fundar o PT.

"A minha decisão em ser membro do PT é uma decisão de vida. Até mesmo se o partido vier dizer para mim que não sou candidato ao Senado em 2006, não vou deixar de ser do PT. Diferentemente de 2002, em 2006 vou apoiar o Lula desde o início. Não serei pré-candidato à Presidência. Para o próximo dia 26, estou convidando a todos para uma plenária de avaliação dos meus atos. Na ocasião, quero que respondam à seguinte pergunta: deve o PT lançar-me candidato ao Senado em 2006?

Agora eu tenho em quem votar. Suplicy presidente!

A deputada Erundina e 12 deputados do PT assinaram o requerimento da CPI na primeira hora. E não tiveram a exposição que teve o senador. Talvez porque não foram teatrais e chorões, igual foi o senador. Eu estaria aplaudindo se Suplicy tivesse assinado na primeira hora.

Realmente o Suplicy é um adorável porra-louca. Não votei nem votaria nele, mas admiro a sua coerência.

O senador acha que a tribuna do Senado é palco de calouros. Melhor espaço é o do Raul Gil. Retorno à minha leitura, que tenho muito mais a ganhar.

*Os trechos em itálico são comentários de internautas do blog do jornalista Ricardo

Noblat e e-mails recebidos

pelo senador Eduardo Suplicy