Título: Cansaço, calor e frio pesam sobre Marcha do MST
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Nacional, p. A7

No 8.º dia, sem-terra param e descansam, muitos com pressão alta e torções

ABADIÂNIA

No oitavo dia da marcha a Brasília, organizada pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), o cansaço se abateu, ontem, sobre os participantes. Os 11 mil sem-terra acamparam ao lado da ponte sobre o rio Corumbá, no município de Abadiânia, a 90 quilômetros de Goiânia, depois de uma caminhada de 15 quilômetros. Muitos deles, extenuados pela marcha sob o sol, lançaram-se nas águas do rio. A procura pelos postos de atendimento médico também aumentou. Havia fila para medir a pressão. A equipe de saúde foi reforçada por dois médicos, um ortopedista do Rio de Janeiro, e um clínico geral cedido pela prefeitura de Anápolis.

Os casos mais freqüentes eram de torções, diarréia, febre e pressão alta, como a que acometeu Rute Oliveira, de 66 anos. Ela foi atendida e colocada em repouso. O marido, Laurindo Gomes de Oliveira, de 67 anos, se orgulhava de estar com a pressão normal. "Agüento até o fim", garantiu ele. O coordenador Charles Trocate disse que as condições do clima, quente durante o dia e muito frio à noite, surpreenderam principalmente os caminhantes das regiões Norte e Nordeste. "O pessoal do Sul, mais acostumado com o frio, cedeu cobertores." Parte da marcha ocorreu em trecho de pista simples da BR-060, obrigando a Polícia Rodoviária a adotar o sistema pare-siga.

Houve dois quilômetros de congestionamento em cada lado da marcha, que se estendia por seis quilômetros. No local do acampamento, onde a rodovia tem pista dupla, metade dela foi interditada para evitar atropelamentos. Outros líderes do MST, como o coordenador nacional João Paulo Rodrigues e o dirigente nacional Gilmar Mauro, juntaram-se ao grupo. Um único incidente no dia ocorreu quando os sem-terra entraram na fazenda Curralinho das Lajes, rompendo a cerca, para montar acampamento. O dono da terra, Sidnei Gomes da Silva, apareceu quando as barracas já tinham sido erguidas e, depois de conversar com o coordenador, autorizou a permanência.

Para Trocate, a marcha está atingindo alguns dos seus objetivos. "Não é só dirigir os participantes, mas aprofundar o aprendizado político, promovendo estudos e a troca de experiências", informou. Os estudos são realizados à tarde. Hoje, a marcha deve avançar mais 12 quilômetros, até Alexânia. A marcha deve chegar a Brasília dia 16, quando acamparão no Estádio Mané Garrincha.