Título: Publicidade pode influenciar o uso de medicamentos, diz professor americano
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Vida, p. A10

O americano Louis Garrison fala com propriedade de um setor que ajudou a cunhar. Por 12 anos aplicou seu conhecimento em economia na indústria farmacêutica e, entre 2002 e 2004, foi vice-presidente da Roche Pharmaceuticals, onde estabelecia a política de preços da companhia e estratégias epidemiológicas mundiais. Afastado da indústria desde o ano passado, Garrison ensina no curso de Farmácia da Universidade de Washington, onde também conduz pesquisas sobre políticas de saúde dos Estados Unidos e internacionais. Por e-mail, ele concedeu a seguinte entrevista ao Estado.

Os anúncios de remédios feitos diretamente ao consumidor americano influenciam a prescrição?

Nos Estados Unidos, temos dois problemas de utilização inapropriada de medicamentos (e de outras tecnologias): na subutilização de alguns importantes para doenças crônicas (como para controlar a hipertensão e o colesterol) e de outros, como alguns antidepressivos. Dessa forma, a grande carga de publicidade feita ao consumidor pode dar informações ao paciente e influenciar o uso, e pode ter tanto conseqüências benéficas quanto maléficas.

Que conseqüências?

Em casos como o do Vioxx (antiinflamatório retirado do mercado em 2004), quando o sistema particular de seguradoras encoraja seu uso excessivo, a publicidade direta apenas aumenta o problema e pode agravar os efeitos negativos. Além disso, os médicos querem dar a seus pacientes um diagnóstico sólido, mas também querem deixá-los felizes. Parece claro que em casos que não há um medicamento dominante em questão os médicos estariam tentados a seguir o desejo do paciente, desejo esse baseado em anúncios ou em uma busca feita na internet.

Os médicos também são expostos a campanhas diretas. Qual é a influência deste trabalho da indústria nas prescrições?

Há poucas dúvidas de que os esforços de marketing dirigidos aos médicos influenciam seus padrões de tratamento. Senão, por que tanto seria gasto nisso? E, como a publicidade direta, isso pode ter efeitos bons e maus. Do lado positivo, os médicos estão ocupados com pacientes e têm pouco tempo para acompanhar as novidades. O marketing dos medicamentos inovadores pode fornecer as últimas informações e ajudá-los a se atualizarem. Mas pode influenciá-los a prescrever alguns produtos em momentos que não sejam tão efetivos quanto outros.

Você acha que os EUA precisam de leis mais rígidas que controlem a publicidade direta, como ocorre no Brasil?

Temos problemas maiores do que a influência da publicidade. Temos 45 milhões de pacientes sem seguro de saúde que, apesar de receberem os melhores cuidados na sala de emergência, encaram uma imensa incerteza, stress e medo sobre o impacto de ficarem realmente doentes. Precisamos trabalhar o problema dos sistemas de saúde antes.