Título: Lisboa assume o IRB para neutralizar acusações
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Nacional, p. A4

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, indicou ontem o ex-secretário de Política Econômica do Ministério, Marcos Lisboa, para assumir a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), depois de aceitar a demissão de Luiz Appolonio Neto do cargo. A decisão aponta para a crescente influência de Palocci na operação de reorganizar politicamente o governo. Homem de total confiança do ministro, Lisboa é tido como bom nome para neutralizar acusações de corrupção envolvendo o IRB. Lisboa também já foi encarregado de conduzir a privatização do IRB depois que o governo conseguir solucionar questões jurídicas para separar as atribuições da empresa, segundo uma nota à imprensa divulgada no final da tarde de ontem.

De acordo com o texto, Palocci aceitou o pedido de afastamento feito pelo próprio Appolonio juntamente com toda a diretoria do órgão e recebeu a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o caso tivesse uma "solução rápida e definitiva". Na prática, ocorreu o contrário. Na operação que desencadeou ontem para dar um choque de moralidade no governo, o presidente decidiu demitir todos os diretores das duas estatais envolvidas diretamente no escândalo dos Correios, revelado em gravação com o ex-chefe de departamento da empresa Maurício Marinho.

Luiz Appolonio, sobrinho do deputado Delfim Netto (PP-SP), assumiu o cargo há dois meses em lugar de Lídio Duarte, indicado pelo PTB.

Segundo denúncias publicadas na revista Veja, o deputado Roberto Jefferson (PTB) cobrava mesada do IRB por meio de um amigo, o corretor de seguros Henrique Brandão. Jefferson teria substituído Duarte para colocar diretor mais afinado com o comando do PTB, como é o caso de Appolonio.

A nota do Ministério da Fazenda enfatiza que a aceitação do afastamento da diretoria do instituto não significa "prejulgamento em relação às denúncias veiculadas na imprensa". "Trata-se de um atitude de desprendimento da diretoria com vistas a permitir uma apuração mais rápida, isenta e de maior transparência junto à opinião pública." O substituto indicado por Palocci ao presidente Lula para assumir o órgão, o ex-secretário Marcos Lisboa, pediu no final de abril para deixar a Secretaria de Política Econômica, alegando motivos pessoais para voltar a morar no Rio de Janeiro. Lisboa não precisará abrir mão do projeto pessoal já que a sede do IRB é no Rio.

SILÊNCIO

O presidente e os diretores do IRB não quiseram fazer comunicado oficial sobre o pedido de demissão. Entre os funcionários do IRB, a troca do comando era o comentário recorrente ontem na hora da saída, às 18h. Um deles chegou a se referir ao novo presidente, Marcos Lisboa, como "interventor".