Título: Planalto pressiona Delúbio a deixar direção do PT
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Nacional, p. A5

É intensa a pressão de integrantes do primeiro escalão do governo federal e de parte da cúpula do PT para que Delúbio Soares - suposto fiador do "mensalão" para deputados da base aliada - peça licença da secretaria de Finanças do partido. Aconselhado principalmente pelo ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, caberia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedir a Delúbio que deixe o posto. Indeciso, Lula poderia fazer o apelo ainda ontem, antes do primeiro pronunciamento do tesoureiro petista, previsto para hoje. A cúpula do partido, porém, está dividida sobre o destino de Delúbio. De qualquer forma, a direção da sigla não determinará seu afastamento, nem o do secretário-geral petista, Sílvio Pereira, que participou da negociação com os partidos aliados para a distribuição de cargos no governo. "O Delúbio é de confiança, mas é forte a pressão de Brasília para que ele saia", confirmou um integrante da comissão executiva do partido. "A decisão depende dele." A idéia é que Delúbio seja mantido longe até que a denúncia do deputado Roberto Jefferson seja esclarecida.

O tesoureiro já teria até um substituto, o secretário de relações internacionais da Central Única dos Trabalhadores, João Vaccari Neto.

Em resposta à pressão do Planalto, a direção do PT em São Paulo, que ontem esteve reunida ao longo do dia, argumenta que a saída de Delúbio seria pior. "Não há hipótese de o Delúbio e o Sílvio Pereira se licenciarem de seus cargos. Seria uma espécie de declaração de culpa que não temos. Se alguém quiser propor isso, que vá na reunião da executiva (hoje) e proponha de peito aberto", disse o secretário de Relações Internacionais do PT, Paulo Ferreira. "Se o Delúbio pedir afastamento, voto contra", declarou o secretário sindical do PT, João Felício.

A saída de Delúbio vem sendo cogitada desde abril. Seu nome foi associado a outras irregularidades e denúncias de tráfico de influência, como a organização de um show da dupla Zezé Di Camargo e Luciano para financiar uma nova sede para o PT - a apresentação foi paga pelo Banco do Brasil. Ele ainda foi citado por um empresário como beneficiário do esquema da Máfia do Sangue, esquema de desvio de verbas no Ministério da Saúde.

Com três dias de atraso, Delúbio Soares deve se defender, em entrevista coletiva, logo após a reunião da executiva nacional convocada para hoje. "O que aconteceu com ele foi uma denúncia falsa e mentirosa. Delúbio estará na reunião e falará com vocês (jornalistas). Queremos expressar aqui a nossa confiança nos dirigentes do PT", disse o presidente do PT, José Genoino.

Delúbio permaneceu recluso ontem. Deixou a sede do partido às 16h29, abaixado no banco de trás de um Ômega preto com vidros escuros. Outro carro saiu pouco antes para despistar a imprensa.

Ao contrário de Delúbio, Sílvio Pereira quebrou o silêncio. "O País todo está indignado e o fundamental é que não paire nenhuma dúvida", disse ele, garantindo ser favorável a uma ampla investigação. "Temos agora um ingrediente político e a opinião pública merece uma satisfação, merece saber a verdade e nós estamos dispostos a buscar essa verdade." Ele não vê a necessidade de instalar uma comissão de ética interna para avaliar o caso.