Título: Secretária de Perillo recebeu oferta de mesada
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Nacional, p. A7

A deputada federal Raquel Teixeira (PSDB-GO) é um dos dois políticos do PSDB goiano que, de acordo com o governador de Goiás, Marconi Perillo, foram assediados por pessoas do governo para mudar de partido e, em troca, receber um pagamento fixo por mês, além de bônus de R$ 1 milhão no final do ano. Por conta disso, Raquel Teixeira se tornou peça-chave na apuração das denúncias de que representantes da base governista pagavam mesada de R$ 30 mil por mês para que parlamentares da oposição apoiassem o governo. Raquel está licenciada do mandato desde janeiro deste ano, quando assumiu a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado. Segundo o deputado Carlos Alberto Lereia, colega de partido e amigo da deputada, foi a própria Raquel Teixeira quem lhe contou sobre o assédio na época em que ocorreu. "Ela chegou a comentar, inclusive, quem teria feito a proposta. Não vou falar quem foi, agora, porque acho que ela deverá fazer isso", afirmou ao Estado.

Segundo o deputado, na época, o assunto foi discutido com alguns parlamentares. Na última segunda-feira, após o governador de Goiás relembrar o ocorrido, afirmando que havia alertado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há um ano, sobre o pagamento de mesada no seu governo, Lereia voltou a discutir a situação com Perillo, durante audiência no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. "Conversamos à tarde e o governador está pronto para ir à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), à CPI ou aonde for para contar o que sabe", disse o deputado, ressaltando que, nesse momento, o governador terá de falar do outro parlamentar que teria sido abordado. "Só sei de uma pessoa que foi procurada, a secretária Raquel", admitiu.

Na segunda-feira, Raquel Teixeira estava presente nas duas solenidades em que o governador falou sobre o assunto. Inicialmente, ela negou que tivesse sido procurada por um interlocutor do governo federal, mas mostrou-se visivelmente desconcertada com a situação e deixou rapidamente o evento, esquivando-se dos jornalistas.

Ontem, depois da confirmação de Lereia de que ouviu a história da própria deputada, Raquel Teixeira foi novamente procurada pelo Estado. Primeiro, pediu que seus assessores avisassem que ela não poderia receber ninguém. Depois, diante da insistência, usou uma saída alternativa para deixar o prédio da secretaria, evitando ser vista pelos jornalistas.

Antes de embarcar num vôo para Brasília, onde participaria de um evento com Perillo, em Planaltina, foi localizada e afirmou que preferia "não falar nesse assunto agora". "É uma decisão minha e preciso refletir melhor", disse, quando questionada sobre quem teria feito a proposta.

Acuada, ainda tentou negar mais uma vez a abordagem, mas acabou admitindo que tinha comentado sobre o ocorrido com o governador. "Já conversei com ele (Perillo). Se o governador achar que deve falar (no nome dela), falará no momento adequado. Eu prefiro não falar", disse.

"Agora, ela vai ter que falar quem foi", rebateu o deputado Lereia, ao saber que a secretária não queria comentar o assunto. Já o governador, sempre sorridente, fechou a cara e disse que não iria "falar mais nada" quando, ao chegar para uma solenidade pública em Aparecida de Goiânia, foi informado de que dois políticos locais confirmaram que uma das pessoas assediadas era a secretária de Ciência e Tecnologia.

Deputada pelo PSDB, eleita com 126 mil votos, Raquel Teixeira é professora universitária, formada em Letras. É seguidora fiel de Perillo.

Agora, a deputada precisará dizer em que condições foi abordada, por quem e, com isso, contribuirá para encerrar ou aumentar a crise política do governo Lula.