Título: Renan quer definir em 48 horas mebros da comissão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A4

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quer encerrar a polêmica em torno da indicação dos membros da CPI dos Correios nas próximas 48 horas. Ele reunirá os líderes partidários nesta quarta-feira e, com ou sem acordo entre governo e oposição, todos terão de indicar seus representantes na comissão. "Espero que haja um entendimento, mas, se não houver, então eu direi: se vocês não se entendem, eu vou indicar", afirmou Renan, para concluir: "Não posso permitir que essa delonga me desgaste". Correligionários do presidente do Senado avaliam que as novas denúncias do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), produziram o efeito de um xeque-mate sobre a CPI mista dos Correios. "A denúncia é muito grave, grotesca, absurda", definiu Renan, ao destacar que a providência que lhe cabe, como presidente do Congresso, é por em prática o regimento. São as normas regimentais que determinam que, na falta de uma decisão dos líderes, cabe a ele indicar os nomes dos senadores e deputados que irão compor a CPI.

"No que depender de mim, indico no menor espaço de tempo possível, mas quero fazer isto combinado com os líderes. Não indicarei porque a oposição quer", declarou, preocupado em manter a postura institucional de presidente de Poder, não se comportando como vanguarda da oposição nem tampouco como líder de governo.

A insistência em compor com os líderes não se limita à preocupação de não atropelar as legendas com a iniciativa da indicação. Renan não quer se intrometer nos rachas internos das legendas da base aliada e muito menos admite sujeitar-se a protestos de facções anti ou pró-governo, como se tivesse tomado partido com suas indicações.

Indagado sobre quais as chances de o governo ser bem sucedido na "operação abafa" para impedir que a CPI funcione, o presidente do Senado não hesitou: "O espaço para manobras é muito menor". Ele acredita que o papel que cabe ao Legislativo neste caso é investigar as denúncias de corrupção que envolvem parlamentares e entidades do governo, como os Correios e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

"A cada dia, fica cada vez menos o espaço para retardar decisões que levem à investigação que a sociedade quer", disse o senador.

Na mesma linha, o líder do PMDB no senado, Ney Suassuna (PB), disse ontem que estava "perplexo com as novas denúncias que devem ser esclarecidas e investigadas". Mas outro dirigente do PMDB chamou a atenção para o fato de Suassuna e Renan defenderam abertamente a investigação, mas não a CPI. Segundo este dirigente, o PMDB "fecharia" para fazer um balanço da situação nessas 24 horas. Isto significa que o compromisso do partido em ajudar o governo a se livrar da CPI na Câmara, antes mesmo de sua instalação, está sendo revisto.

A cúpula governista do partido programou várias reuniões e conversas que deveriam se estender pela madrugada. Mas a definição sobre a tática mais conveniente ao partido só deverá ocorrer na manhã desta terça-feira. Mais do que questionar a eficácia da estratégia de derrubar o inquérito na Câmara, a cúpula peemedebista tinha dúvidas ontem sobre se valia ou não a pena tentar segurar a CPI.