Título: Planalto sabia de mensalão e não apurou; CPI é irreversível
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A4

Ação de pagamento de mesada a deputados reforça tendência de CPI, abala credibilidade do presidente e afeta mercados

O governo petista enfrenta sua maior crise política. As denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que deputados recebiam uma mesada para votar conforme o interesse do Planalto tornaram irreversível a abertura de uma CPI para investigar suspeitas de corrupção nos Correios. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quer instalar a CPI em 48 horas. "O espaço para manobras é muito menor", disse. "A cada dia, há menos espaço para retardar decisões que levem à investigação que a sociedade quer." As denúncias abalaram a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afetaram pela primeira vez o mercado financeiro, com queda na Bolsa de Valores e alta da cotação do dólar. Petistas ficaram em estado de choque e a oposição teve a oportunidade de fazer cobranças diretamente a Lula - e não mais a ministros ou líderes no Congresso.

"A crise política está ficando fora de controle", avaliou o senador Cristovam Buarque (PT-DF). Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), exigiu de Lula a demissão de auxiliares sob suspeita: "É mais fácil para o presidente se livrar dos indesejáveis do que o Brasil querer se livrar dele." Preocupado com a hipótese de crise institucional, o ex-presidente Fernando Henrique recomendou cautela: "Não podemos, numa hora dessas, tocar fogo no paiol."

Jefferson, que ocupa a presidência do PTB, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava uma mesada de R$ 30 mil para que parlamentares do PP e do PL votassem a favor do governo. O deputado afirmou ter conversado pessoalmente com Lula sobre o chamado "mensalão", numa reunião testemunhada por auxiliares do presidente.

A mobilização do PT para reagir à entrevista começou ainda na madrugada de ontem, quando Lula recebeu membros da cúpula do partido em seu apartamento de São Bernardo do Campo, onde passara o domingo. Pouco depois das 10 horas da manhã, a direção do PT divulgou uma nota na qual refutava as acusações de Jefferson e dizia tê-las recebido com "surpresa e indignação".

Mais tarde, porém, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), confirmaram que Jefferson comentara com Lula a existência de boatos sobre o "mensalão". Ambos disseram que, embora o deputado não tenha apresentado nenhuma evidência da irregularidade, Lula determinou que o caso fosse investigado.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), colocou mais combustível na história, ao declarar que alertara Lula para o assédio a deputados tucanos. "Era para trocar de partido, sair do PSDB e ir para a base do governo por uma mesada de R$ 40 mil por mês e R$ 1 milhão ao fim do ano, de bônus", afirmou.

A crise causou, ainda, a primeira baixa: o presidente da Eletronorte, Roberto Salmeron, pediu demissão. O gesto foi previamente combinado com Jefferson.

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