Título: 'Não vamos colocar fogo no paiol', recomenda FHC
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A6

Líderes do PSDB são cautelosos ao comentar o caso; Alckmin disse que objetivo não 'é criar ambiente ainda mais tenso' Ariosto Teixeira, Clarissa Oliveira, Silvia Amorim e Eduardo Kattah O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou aos tucanos que tratem com cuidado as novas denúncias contra o governo para não provocar uma crise institucional. "Não se pode ceder a tentações desestabilizadoras. Não podemos, numa hora dessas, tocar fogo no paiol", disse FHC, segundo relato do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que contou ter conversado com o ex-presidente por telefone. Os líderes tucanos atenderam ao pedido e defenderam a apuração das denúncias, mas mantiveram cautela nas declarações. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou esperar uma manifestação de Lula. "Todos aguardam a palavra do presidente. Ele é citado nominalmente. É evidente que ele vai se explicar", disse o goernador.

Ainda assim , o governador pediu calma: "Acho que isso deve ser apurado com serenidade e isenção. Não vamos colaborar para criar um ambiente ainda mais tenso do que o que estamos vivendo."

Alckmin disse que as denúncias não representam um estímulo para a sua eventual candidatura à Presidência da República em 2006. "(As denúncias) não têm relação nenhuma com candidatura. A eleição é no ano que vem e eu entendo que, só no ano que vem, esse assunto será discutido. São coisas totalmete distintas e a motivação para que o candidato do PSDB seja este ou aquele, certamente, não será esta", observou.

O prefeito de São Paulo, José Serra, outro possível candidato do PSDB para as eleições do ano que vem, também evitou fazer críticas diretas ao governo petista, mas disse que uma nova operação para abafar o caso pode levar o País a uma instabilidade política "ainda maior".

"São declarações graves, que não podem ficar no ar. Exigem uma investigação correta, completa e profunda pelo bem do nosso País", afirmou.

Na sua avaliação, a falta de apuração dos fatos pode comprometer o processo político nacional. "É espantoso. Nunca vi isso em 16 anos de Congresso." Serra defendeu a abertura de uma CPI ou de processo na Comissão de Ética do Congresso para investigar a denúncia. "Não conversei com os líderes do partido, mas tenho certeza que eles vão propor fórmulas para se fazer isso." Serra se afastou da presidência nacional do PSDB no início do ano, mas, nos bastidores, continua orientando a atuação do partido.

Ontem, Serra ressaltou que a oposição não deve usar o momento para palanque eleitoral. "Não devemos nos deixar dominar pela paixão e muito menos pela idéia do quanto pior melhor." Questionado sobre se a denúncia abalaria ainda mais a imagem do governo petista, Serra desconversou. "Certamente não faz bem."

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), afirmou que o PT deve esclarecimentos "a todos os brasileiros" sobre as denúncias "extremamente preocupantes".

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, afirmou que o seu partido espera que o presidente Lula faça um pronunciamento para esclarecer as denúncias feitas por Jefferson. "Ele é um homem que Lula considera sério, porque disse a ele que daria um cheque em branco e poderia ir dormir tranqüilo", disse. "Não devemos criar um clima de instabilidade institucional que possa a levar a uma desestruturação e à ingovernabilidade. Nós não queremos isso."