Título: Brasil confirma compra de Mirages
Autor: Roberto Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Nacional, p. A13

O governo brasileiro confirmou há dois dias a compra, por cerca de US$ 57 milhões, de 12 aviões Mirages 2000-C, supersônicos usados. O processo só deveria ser formalizado em julho, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França, mas acabou sendo antecipado e apresentado pelo vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. Os caças estão em uso regular na aviação militar francesa. O lote já está sob revisão para que possa ser entregue até dezembro, quando serão desativados os Mirages IIIE/Br em uso há 33 anos. Os modelos da série C são interceptadores de alto desempenho, com limitações de emprego em outro tipo de missão. Segundo a assessoria internacional da ministra da Defesa francesa, Michele Alliot-Marie, as aeronaves podem disparar mísseis de longo alcance Mica.

A operação, realizada por negociação direta entre os presidentes Lula e Jacques Chirac, deveria ser revelada oficialmente no dia 13 de julho, em Paris, na véspera da parada do Dia Nacional da França. Todavia, o vice-presidente José Alencar foi indiscreto e quebrou o sigilo formal que cercava o assunto, detalhando o procedimento em duas ocasiões - uma delas durante reunião na base da FAB em Anápolis, Goiás, onde está o Grupo de Defesa Aérea (GDA) que receberá os Mirages 2000-C.

"Não é o ideal, não é o que queríamos, mas é o que podemos ter no momento", disse ontem ao Estado um oficial da área operacional da FAB. Para ele, o fato de os caças estarem "empenhados no trabalho diário da Armée de l'Air, é uma garantia da qualidade do material e não nos preocupa tanto quanto se a opção fosse por uma frota que tirada do um depósito para ser depois modernizada".

Os Mirage 2000-C compõem um módulo temporário, de transição. O Comando da Aeronáutica não cancelou a o Programa FX, mas somente encerrou a concorrência que dava início ao projeto e previa a compra, por US$ 700 milhões, de 12 caças de última geração.

O analista Ciro Marques, consultor privado de estratégia, considera que o fato de os aviões terem sido fabricados nos anos 1980 ou 90 implica risco porque "a qualidade do pessoal da FAB fará diferença na eventualidade de um futuro confronto com equipamento de maior sofisticação".

O Comando da Aeronáutica não terá gastos significativos a fazer com a transição dos equipamentos. A logística do Mirage 2000-C é compatível com a manutenção dos atuais Mirages IIIE/Br.