Título: Americano tenta vincular Chávez à crise boliviana
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Internacional, p. A14

Empenhado em demonstrar que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tem influência desestabilizadora na região, o secretário-adjunto de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, não demorou ontem para sugerir um possível envolvimento de Caracas na crise da Bolívia. "O perfil de Chávez na Bolívia é bastante aparente desde o início", disse ele no último dia da Assembléia-Geral da Organização dos Estados Americanos em Fort Lauderdale, Flórida. "O histórico (do envolvimento de Chávez na Bolívia) é óbvio e fala por si, e isso é preocupante." Indagado pelo Estado sobre os indícios de conexão entre Chávez e os eventos em La Paz, Noriega disse: "Evo Morales esteve em Caracas e Havana, mas não quero dizer mais que isso no momento." Morales é o mais conhecido líder da esquerda radical na Bolívia e um dos líderes dos protestos que paralisam a capital boliviana e levaram Carlos Mesa a renunciar.

Uma declaração emitida duas horas mais tarde em Washington pelo Departamento de Estado não fez menção à Venezuela e suscitou dúvidas sobre a relevância das afirmações de Noriega. "Pedimos uma resolução democrática e constitucional das tensões na Bolívia", disse o porta-voz Sean McCormack, acrescentando que os EUA estão prontos para ajudar o governo boliviano, se este solicitar.

O chanceler venezuelano, Ali Rodríguez, negou qualquer ajuda de Caracas à oposição boliviana e criticou o comportamento de Noriega. "Não, indignadamente, não", disse ele, respondendo a uma pergunta sobre a alegada ajuda a Morales. "A Venezuela tem demasiados problemas internos para envolver-se com problemas de outros países. Somos solidários com a Bolívia, mas os problemas da Bolívia devem ser resolvidos pelos bolivianos", acrescentou. "Não quero comentar as declarações de Noriega, mas os diplomatas devem atuar de maneira a apagar incêndios e parece que ele prefere jogar lenha na fogueira."

A assembléia da OEA preparava-se na noite de ontem para aprovar uma resolução de solidariedade com a Bolívia. O embaixador do Brasil na organização, Osmar Chofi, disse que a OEA deve estar pronta a "dar uma contribuição construtiva e respeitosa ao país irmão", se solicitada. O impasse mantinha-se, porém, na negociação de linguagem aceitável a todos para tornar a entidade mais ativa na defesa da democracia. Uma proposta de criação de um mecanismo de controle de qualidade das democracias na região, feita pelos EUA, foi rejeitada pela maioria dos governos.