Título: Morales quer renúncia de sucessores
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Internacional, p. A14

Vários setores sociais na Bolívia e opositores exigiram ontem, após a decisão do presidente Carlos Mesa de apresentar sua renúncia ao Congresso, que os presidentes do Senado e da Câmara de Deputados renunciem à sucessão constitucional para antecipar as eleições. O líder cocaleiro Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), declarou ontem que os presidentes do Senado, Hormando Vaca Díez, e da Câmara de Deputados, Mario Cossío, devem renunciar à sucessão constitucional para permitir que o presidente da Suprema Corte, Eduardo Rodríguez, assuma o governo. Essa é a linha sucessória segundo a Constituição da Bolívia, e o presidente da Suprema Corte é o único dos três que pode convocar eleições gerais.

Morales disse que se Vaca Díez for designado presidente ele poderia até mesmo ordenar a tomada do palácio presidencial e do Congresso aos manifestantes que paralisam a capital boliviana e tentam tomar a Praça Murillo, sede desses poderes.

"Se Hormando Vaca Díez não renunciar, a sucessão só vai polarizar a Bolívia", disse o líder cocaleiro. "O povo disse: 'não vamos permitir a presidência de Vaca Díez nem de Cossío, do Movimento de Esquerda Revolucionária e do Movimento Nacionalista Revolucionário', que é parte da máfia política, não só da Bolívia, mas da América Latina", disse Morales.

O presidente da Federação de Associações de Moradores de El Alto, Abel Mamani, se pronunciou no mesmo sentido, apesar de sustentar que a renúncia de Mesa busca desmobilizar os setores que pedem a estatização dos recursos energéticos e uma Assembléia Constituinte.

"Não concordamos que Hormando seja o próximo presidente, nem que seja Cossío. Com certeza as eleições serão antecipadas através de Rodríguez", declarou o líder comunitário.

Se Vaca Díez ou Cossío assumirem o poder, governarão até agosto de 2007 - quando terminaria o mandato de Mesa -, mas se Rodíguez assumir as eleições seriam convocadas provalvelmente para dezembro.

Mamani disse que as associações de moradores de El Alto avaliarão qual será o curso das mobilizações e das greves realizadas desde meados de maio para ameaçar o Estado a atender seus pedidos.

Por sua vez, Luis Eduardo Siles, membro do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), cujo líder é o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que reside nos EUA, assegurou que seu partido apoiará a renúncia do presidente Mesa e depois a sucessão constitucional.

Outros partidos políticos, no entanto, anunciaram que analisarão com serenidade os acontecimentos para adotar uma posição.