Título: 'Bin Laden me deu licença para matá-lo'
Autor: Nick Fielding
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Internacional, p. A17

Um ex-guarda-costas particular de Osama bin Laden revelou como o líder da Al-Qaeda sobreviveu a pelo menos três tentativas de assassinato durante sua temporada no Afeganistão e rejeitou vários pedidos de que retornasse à nativa Arábia Saudita - incluindo um feito por sua mãe. Abu Jindal, um iemenita de 35 anos que diz ter trabalhado para Bin Laden de 1995 a 2000, conta que recebeu autorização para matar o líder terrorista se ele estivesse prestes a ser capturado.

"Eu era o único membro de sua equipe de guarda-costas com essa autoridade", disse ele em entrevista, no Iêmen, ao jornal árabe com sede em Londres Al-Quds al-Arabi.

"Eu tomava o cuidado de manter as duas balas em boas condições e as limpava todas as noites. (...) Se as forças inimigas cercassem o xeque Osama e não houvesse possibilidade de fuga, eu deveria matá-lo antes que elas pudessem capturá-lo vivo."

Abu Jindal afirmou que houve pelo menos três tentativas de assassinato contra o líder da rede terrorista durante sua temporada com Bin Laden no Afeganistão.

A primeira foi levada a cabo em 1998 por um jovem usbeque supostamente enviado pelos sauditas em troca de uma recompensa de 2 milhões de rials (o equivalente a cerca de US$ 530 mil) e da nacionalidade saudita. "Ele tinha apenas 18 anos e fora enganado. Ele chorava de um modo muito patético e dizia: 'Cometi um erro.' O xeque Osama acabou ordenando sua libertação."

Depois de outra tentativa de assassinato em Jalalabad, o mulá Mohammed Omar, líder do grupo Taleban, convenceu Bin Laden a se mudar para a relativamente mais segura Kandahar, no sul do Afeganistão. Abu Jindal disse que Bin Laden e sua família eram protegidos por entre 14 e 16 guarda-costas que sempre viajavam com eles.

Os sauditas tentaram várias vezes convencer Bin Laden a voltar para a Arábia Saudita. "Numa ocasião, o governo saudita enviou sua mãe e seu meio-irmão num avião especial saudita que aterrissou no aeroporto de Kandahar", contou Abu Jindal.

Em outra ocasião, o príncipe Turki al-Faiçal, hoje embaixador saudita em Londres, chegou num grande avião, disposto a voltar com Bin Laden e seus acompanhantes. "A delegação foi embora sem ele", disse Abu Jindal.

O ex-guarda-costas, cujo nome verdadeiro é Nasir Ahmad Nasir al-Bahri, cumpriu uma breve pena de prisão depois de voltar para casa. Agora ele está livre, mas é vigiado de perto pelos serviços de inteligência.