Título: PF indicia ex-assessor dos Correios
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A8

A Polícia Federal indiciou ontem o ex-assessor da Diretoria de Administração da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), Fernando Leite Godoy, nos crimes de corrupção passiva e fraude em licitações. Com isso, ele passa a ser formalmente acusado no inquérito que apura o suposto esquema de corrupção que o PTB teria montado na estatal. O inquérito foi aberto há três semanas após a divulgação, pela revista Veja, de uma fita de vídeo em que o diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material da empresa, Maurício Marinho, aparece recebendo e embolsando propina de empresários.

Fernando Godoy prestou depoimento por mais de três horas e, além de entrar em contradição por várias vezes, mostrou ter memória curta. Ele não se lembrou de ter ido duas vezes ao prédio-sede da ECT no dia 14 de maio, um sábado - justamente o dia em que a sua agenda de trabalho, controlada pelas secretárias, sumiu de sua sala.

A agenda contém o registro dos contatos, compromissos e encontros realizados no setor e é considerada fundamental para a polícia fechar a conexão da cadeia de comando da quadrilha, que supostamente controlava as licitações das compras de material da ECT, segundo informou o delegado Luiz Flávio Zampronha.

CONFUSÃO

As entradas e saídas de Godoy estão anotadas no livro de registro da portaria da garagem da ECT. Mas ele disse que, daquele sábado, só se lembra de ter saído cedo de casa para ir ao supermercado e não se recordava de ter entrado na estatal.

"Ele ficou visivelmente confuso e não soube explicar o registro da sua presença na empresa. Aparentemente, deu um branco na memória", informou o delegado. O ex-assessor também não sabe como, exatamente naquele dia, sua agenda de trabalho sumiu da mesa das secretárias. As duas também prestaram depoimento ontem.

Até agora, foram indiciados Marinho e Godoy, pelos mesmos crimes. O próximo a ser convocado para depoimento, possivelmente ainda nesta semana, é o diretor de Administração da estatal, Antônio Osório Batista. Acusado de ser o cabeça do tripé de comando do esquema do PTB na estatal, ele também pode sair indiciado do depoimento.

QUEBRA DE SIGILO

A Polícia Federal renovou ontem na Justiça o pedido de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de Marinho, Godoy e Batista, a fim de analisar os indícios já colhidos de enriquecimento ilícito dos três.

Godoy, por exemplo, tem imóveis avaliados pela em cerca de R$ 1,5 milhão. No depoimento, ele admitiu que seu patrimônio é bem maior do que os R$ 800 mil declarados à Receita, porque não declara rendas extras que estaria obtendo com uma atividade paralela de corretor de imóveis.

A Polícia Federal desconfia de que esta seja uma informação falsa, para desviar o foco de um crime maior para outro de mais fácil defesa (a declaração de renda a menor à Receita Federal).

A partir dos dados levantados com a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico, será realizada uma perícia contábil para verificar se a evolução patrimonial dos três é compatível com a renda. Caso seja constatado que Godoy está usando a liberdade para destruir provas, a Polícia Federal vai pedir sua prisão preventiva. O mesmo vale para os demais envolvidos.