Título: PL diz que Jefferson é desonesto e quer chantagear governo
Autor: Denise Madue¿o, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A8

Com promessa de processar o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), os presidentes do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), e do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), negaram ontem que parlamentares dos dois partidos tenham recebido mesada de R$ 30 mil do secretário de finanças do PT, Delúbio Soares, para votar a favor do governo na Câmara. A nota de Costa Neto foi a mais agressiva: qualificou Jefferson de desonesto e disse que o petebista tentava "confundir a opinião pública e chantagear o governo". O presidente do PL anunciou que entrará hoje com representação contra Jefferson no Conselho de Ética da Câmara. "Caso não cometa a covardia de renunciar a seu mandato antes da abertura das investigações no Congresso Nacional, o senhor Roberto Jefferson e suas mentiras serão punidos pela Câmara dos Deputados que, exemplarmente, não admite a permanência de gente comprovadamente desqualificada entre seus pares", diz a nota.

Seguindo a linha da negativa adotada pelos aliados, Costa Neto disse que nunca participou de um encontro com o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) e o ex-líder do PP deputado Pedro Henry (MS) para pressionar o líder do PTB, deputado José Múcio (PE), a aceitar um esquema de pagamento de dinheiro para quem votasse com o governo. "Ele vai ser cassado. Ele quer que a opinião pública pense que é tudo farinha do mesmo saco para que ele possa ficar à vontade", afirmou Costa Neto.

Segundo o presidente do PL, "ninguém dá mesada para 50, 100 ou 200 deputados", como declarou Jefferson. "O camarada que fizer isso vai para a cadeia. Isso não tem como controlar. O dia em que existir isso, o governo cai. Isso não existe, nunca deu certo", sentenciou.

Costa Neto previu que, após este episódio da denúncia de pagamento de mesada a parlamentares, Jefferson vai sair da vida pública e não poderá nem mais andar pela Câmara. Na nota, Costa Neto afirmou que o partido repudia qualquer acusação infundada. "Sobretudo quando esta acusação pretende envolver o PL ou o governo de que faz parte no varejo de práticas políticas que marcaram, por exemplo, os serviços prestados pelo sr. Roberto Jefferson no governo do sr. Fernando Collor." Na nota em que nega que parlamentares do PP tenham recebido mesada para votar com o governo, o presidente Pedro Corrêa disse que o relacionamento de seu partido com o governo "é pautado exclusivamente pela defesa dos projetos de interesse do País e pela garantia da governabilidade".

Na nota, o deputado afirma que entende o "sofrimento do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, em decorrência das denúncias contra ele, que justifica suas divagações publicadas hoje (ontem) pela imprensa". "Torço para que ele consiga provar a sua inocência", concluiu a nota de Corrêa.

Pedro Henry também se apressou em negar as declarações de Jefferson. Ele afirmou que "nunca" fez reunião com nenhum dos parlamentares citados pelo presidente do PTB para tratar do suposto mensalão. Henry afirmou que nunca manteve qualquer tipo de relacionamento com Delúbio Soares nem conversou com o deputado Íris Simões (PTB-PR) sobre filiação partidária. Simões é um dos dois deputados do PTB que - de acordo com Jefferson - Pedro Henry teria tentado cooptar para o PP oferecendo mensalão.

"De maneira absolutamente imprópria para o Parlamento, (Jefferson) envolve o meu nome num denuncismo desesperado que não tem outro objetivo senão o de desfocar o centro das discussões sobre corrupção envolvendo indicados seus que ocupam cargos no governo", argumentou o pepista.

Fortaleza (Carmen Pompeu) - Para o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), o deputado Roberto Jefferson está precisando de um "tratamento psíquico". O diagnóstico foi dado por ele hoje (06) à noite, em Fortaleza, durante palestra para empresários, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). "Conheço o Roberto Jefferson de muitos anos; tenho por ele um profundo respeito. E ele guardar isso durante tanto tempo! Ele falou que esteve com o presidente (Lula) em janeiro. Quer dizer que essa contribuição já vinha de outros meses. Por quê ele não denunciou antes?", questionou Cavalcanti.

Perguntado se o petebista teria prevaricado, ele respondeu acreditar que sim. "Pelo menos, foi conivente", apontou. "Se ele sabia disso, deveria ter levado ao conhecimento da Mesa Diretora para que ela punisse esses deputados que estão recebendo essas propinas", criticou.

De acordo com Cavalcanti, as denúncias sobre o "mensalão" apresentadas pelo petebista deveriam sim ser objetos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). "É claro. Você acha que um sujeito que está recebendo, que está estorquindo, ele merece continuar como representante do povo?", perguntou.

De acordo com Severino, o presidente Lula deverá mandar punir todos os responsáveis. "Eu sei que ele (Lula) é um homem equilibrado, um homem de bom-senso e não vai permitir que essas falcatruas continuem porque, caso contrário, vão sim pesar sobre o seu governo", afirmou. Em seguida, negou ter conversado com o presidente Lula por telefone durante sua estada em Fortaleza.

Perante os empresários, no debate que seguiu a palestra, o presidente da Câmara condenou veementemente a corrupção. "No nosso partido não existe isso (corrupção). É por isso que nós defendemos, e somos até muito criticados por isso, que o salário do parlamentar seja igual ao do Supremo Tribunal Federal", disse.

"Deputado tem que lutar pela equivalência e não roubar a Naçção", emendou, defendendo a punição com a perda do mandato de todo o deputado que esteja usando o cargo para enriquecer ilicitamente. "Corrupção comigo é na cadeia", pregou, dizendo-se o parlamentar que mais cassou deputados em toda a história do Congresso. "Foram sete quando fiu corregedor". "A corrupção é para ser enterrada e não adubada", defendeu e esbravejou: "Lugar de ladrão é na cadeia".

Fortaleza (Carmen Pompeu) - O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse hoje (06), em Fortaleza, que deve haver "pelo menos uma coincidência" entre o momento de "aflição" vivido pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, alvo de uma eminente CPI dos Correios, e as denúncias feitas por ele sobre um suposto esquema de mesada para deputados.

"Ele antes nunca denunciou e nem nunca falou sobre isso. Se ele sabia há tanto tempo, deveria ter denunciado antes, não agora nessa aflição em que ele está", declarou Cavalcanti durante entrevista coletiva concedida após participar de uma solenidade na Assembléia Legislativa do Ceará em homenagem aos 20 anos da redemocratização do Brasil.

De acordo com Cavalcanti, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está refém da crise que se instalou no Congresso. "Ele (Lula) vai resolver as coisas com bastante sabedoria. O presidente não vai ficar engasgado com pouca coisa. O que ele tem de fazer é esperar a Câmara tomar as devidas providências", aconselhou.

Cavalcanti disse inclusive ter ficado surpreso com as informações dadas por Roberto Jefferson de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, repassava um "mensalão" de R$ 30 mil aos deputados do PP e do PL. "Eu não acredito nessas colocações", afirmou o presidente da Câmara. Mesmo assim, garantiu que iria remeter o caso para Corregedoria da Casa. "Se tiver algum deputado que tenha recebido essa mesada, eu encaminharei para o corregedor-geral Ciro (nogueira, do PP-PI) para que ele tome as providências devidas", prometeu. De acordo com Cavalcanti, os supostos envolvidos poderão ser punidos com a perda do mandato.

Cavalcanti garantiu ainda não haver nenhuma ligação entre o corte da suposta mesada, que, segundo Jefferson teria sido feito pelo presidente Lula, em janeiro deste ano, com a escolha de seu nome para a presidência da Câmara. Segundo Jefferson, a insatisfação dos deputados com o corte teria resultado na eleição de Cavalcanti. "Não tem nenhuma ligação disso com a minha eleição. A minha eleição foi um imperativo da consciência brasileira. O Brasil queria que a Câmara mudasse e eu fui o porta-voz.

Representei os anseios da sociedade brasileira que queria um Poder Legislativo independente, sem ser subjugado a quem quer que seja", garantiu.

O presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa, também estava presente à coletiva. Assim como Cavalcanti, ele assegurou desconhecer qualquer esquema de mesada. "Eu nunca ouvi falar nessa história de mensalão na Câmara", asseverou. De acordo com ele, o deputado Roberto Jefferson teria deixado inúmeros recados, na terça-feira da semana passada, depois das denúncias contra o petebista publicadas na revista "Veja", dizendo que gostaria de falar com ele. "Fui a residência dele e ele então me fez dois pedidos. Um que Severino pudesse presidir a sessão na qual ele iria falar sobre o assunto, e presidiu. E o outro pedido era que a bancada do PP comparecesse em peso, e compareceu".

Pedro Corrêa afirmou que "em nenhum momento" pediu para Jefferson não falar sobre o tal "mensalão". "Apenas disse a ele: Olha, tome cuidado porque você pode falar em algo que nem lembra e pode faltar com o decoro parlamentar . Disse isso, e fui embora".

"Nunca tomei conhecimento. Eu afirmo categoricamente que nunca ouvi nenhum parlamentar do PP que tenha recebido dinheiro do PT e nem de quem quer que seja", insistiu Corrêa, assegurando que a relação do partido com o governo continuará a mesma.

Sobre a instalação ou não da CPI dos Correios, o presidente da Câmara, Severeino Cavalcanti, informou que vai depender do "estado de espírito" dos deputados. "Eles não não estão subjugados a ninguém e vão votar de acordo com a própria consciência", afirmou.