Título: Escândalo assusta investidor externo
Autor: Patrícia Campos Mello e Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Economia, p. B1

A crise política assustou o investidor externo. Os títulos da dívida externa não deram trégua e operaram durante todo o dia em terreno negativo. Os C-Bonds caíram 0,43% para 101,56% do valor de face e o BR-40 recuou 0,55%, para 117,65%. Resultado disso foi a alta do risco país, que reflete a confiança dos estrangeiros no Brasil. O indicador subiu 2,55% e alcançou 440 pontos. O dólar comercial subiu 0,57% para R$ 2,464. O índice Dow Jones Brazil Titans, que inclui as 20 ações de empresas brasileiras de maior liquidez e capitalização de mercado negociadas nas bolsas americanas, encerrou o dia em queda de 2%. Segundo um operador de ADRs (papéis de empresas estrangeiras negociados nos EUA), foram as tesourarias dos bancos e os hedge funds que venderam papéis brasileiros ontem, causando a queda das ações. "Mas os fundos dedicados, que investem só em Brasil ou emergentes, mantiveram suas posições, porque acreditam nos bons fundamentos da economia brasileira."

Muitos analistas temem a volta da síndrome das sextas-feiras - a fase de turbulência que agitava os mercados toda sexta-feira, às vésperas da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, quando havia boatos de que as revistas semanais iriam publicar escândalos políticos. "Eu vejo mais nervosismo vindo por aí, o terreno ficou muito fértil para plantação de boatos", diz Ricardo Amorim, chefe de pesquisas para a América Latina do Banco WestLB em Nova York.

Mas, por enquanto, a reação do mercado à crise tem sido controlada. "O mercado não acredita que essa crise tenha o potencial de desviar a política econômica do curso seguido", pondera Mário Mesquita, economista-chefe do banco ABN Amro.

"Temos sorte, porque a liquidez internacional ainda é grande", diz Amorim. Segundo ele, como as taxas de juros americanas ainda estão baixas, os investidores continuam em busca dos altos retornos dos emergentes e estão encarando as más notícias com calma. Mas ele mudou suas previsões. "No câmbio, esperávamos uma valorização do real, mas agora acho que o dólar vai subir e pode chegar a R$ 2,55 logo."

O mercado mais sensível à crise política tem sido a bolsa, afirma Marcos de Callis, diretor de Investimentos do HSBC Investment. No pregão de ontem, a Bovespa caiu 2,07% e ampliou a queda no ano para 4,47%. Segundo Callis, o investidor tinha grande proporção de papéis do Brasil em seus portfólios e, com a crise, resolveram se desfazer de parte desses títulos e ações.

A instabilidade pode atingir também as emissões de ações esperadas para este ano, como as da Cosan, Lojas Renner, TAM e AES Tietê. "Com a crise política, muitas empresas podem postergar emissões, esperando por condições mais estáveis e maior apetite dos investidores", diz um diretor de um banco estrangeiro.