Título: Indústria tem crescimento zero
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Economia, p. B4

A indústria brasileira ficou estagnada em abril, sem variação na produção em relação a março. O bom desempenho da extração de petróleo evitou uma queda da atividade ante o mês anterior e garantiu um quadro que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) definiu como "estabilização do setor em patamar elevado". Na comparação com abril de 2004, a produção cresceu 6,3%. As exportações e o crédito permaneceram como fator de dinamismo industrial, alavancando segmentos como automóveis e alimentos, destacou o chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, Silvio Sales. Segundo ele, o aperto da política monetária e a inflação impedem mais fôlego na recuperação do mercado interno, no que diz respeito aos setores vinculados ao rendimento dos trabalhadores. "De setembro para cá, houve um aperto na política monetária e isso mexe na decisão de consumidores e empresários. E, no caso dos não duráveis (bens de consumo vinculados ao rendimento), o efeito inflação, em contexto em que o mercado de trabalho se recupera mas o rendimento tem uma reação bem mais discreta do que o nível de ocupação, acaba influenciando." A produção acumulou em quatro meses alta de 4,5% e em 12 meses, de 7,5%.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os dados mostram estagnação, e "o receio é que o processo não pare aí e venha a desembocar em uma retração". Mas seus economistas admitem que ainda não há sinais de retração na indústria, exceto no setor de bens de capital, a categoria mais vinculada a investimentos.

Sales concorda com a avaliação e explica que, mesmo não tendo ocorrido "uma reversão" dos investimentos conforme o temor deflagrado com a divulgação do PIB do primeiro trimestre - que mostrou a segunda queda consecutiva nos investimentos ante mês anterior -, há uma clara desaceleração.

Ele destacou que a categoria de bens de capital, " um pedaço dos investimentos, está em trajetória declinante, mas a pressão negativa ainda é localizada na agricultura". O subsetor de bens de capital para agricultura foi o único vinculado a essa categoria que recuou em abril ante abril do ano passado (37,2%). Nos demais subsetores, houve crescimento nessa base de comparação: bens de capital para construção (23%); para energia elétrica (14,8%); para transporte (9,7%); para máquinas e equipamentos (8,3%) e para uso misto (microcomputadores e equipamentos para telecomunicações, 3,3%).

Para os economistas do Bradesco, a desaceleração industrial vai bem além dos investimentos. Eles dizem que os dados mostram que "o crescimento da produção industrial não é mais tão harmônico e uniforme como em 2004", agora com um número menor de setores com mais produção. "Isso sinaliza continuidade de desaceleração da produção industrial daqui para frente."