Título: Nomeações políticas abrem crise na Petrobrás
Autor: Irany Tereza, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A12

A proliferação de empresas transportadoras de gás natural "de papel" e a indicação de apadrinhados políticos para dirigi-las abriram uma crise sem precedentes na Gaspetro, subsidiária da Petrobrás, que culminou com a renúncia, em novembro do ano passado, do diretor João Eudes Touma. Ele entregou o cargo, com justificativa por escrito, ao Conselho de Administração. O documento, obtido pelo Estado, revela que houve contratação indevida de pessoal remunerado para estas empresas, que a princípio seriam apenas virtuais. "A estrutura organizacional e os níveis de remuneração de funções gerenciais dessas transportadoras não obedecem às normas da Petrobrás", escreveu o diretor, na época. Procurado pela reportagem, Touma, que ainda ocupa uma gerência executiva na Petrobrás, evitou falar a respeito. "Renunciei realmente, mas não quero falar sobre isso", desconversou, por telefone. Henyo Barreto, que também era diretor da Gaspetro e assinou o documento "em solidariedade" a Touma, também preferiu não comentar o fato.

São oito transportadoras, a maioria para projetos cuja expectativa de concretização é quase nula, como a Transportadora Meio Norte (TMN), criada para avaliar a construção de um gasoduto no Nordeste. O presidente, nomeado em outubro do ano passado, é Emerson Menin, fundador da Fraternidade Mundo Novo, irmandade espiritual à qual pertence o secretário de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência, Luiz Gushiken.

SALÁRIO

Graduado em Educação Física pela Universidade de São Carlos (SP), Menin ingressou na Petrobrás em 3 de janeiro de 2003, como assessor de Comunicação de Gás. Com contrato especial, ele entrou na estatal junto com a atual diretoria. Ele falou ao Estado de Brasília, onde está lotado:

"Não tenho nada a esconder. A TMN é uma empresa de papel, com o fim específico da construção de um gasoduto do Ceará ao Maranhão. Mas não recebo pelo cargo, e sim como coordenador de Relações Institucionais da Área de Gás da Petrobrás", afirmou, recusando-se a revelar o salário que, segundo foi apurado pelo Estado, estaria em torno de R$ 13 mil mensais. Sobre a efetivação da obra do gasoduto, ele foi bastante vago: "Ah, nem sei se vai sair. É apenas um projeto. Tudo vai depender da conjuntura".

Estão ligadas à Petrobrás, diretamente ou em parceria, oito transportadoras, incluindo a que opera o gasoduto Brasil-Bolívia. A maior parte delas foi criada a partir de 2000, quando o diretor de Gás da estatal era Delcídio Amaral, atual líder do PT no senado.

"Na minha época, essas empresas eram de papel, apenas para constituição de CNPJ, não havia custo com pessoal", esquiva-se o senador.

No ano passado, somente com a Transportadora Nordeste Sudeste foram repassados para custo de pessoal, de março a julho, R$ 722.931,52.

As empresas, que seguem o preceito das Sociedades de Propósito Específico (SPE), foram criadas sob alegação de cumprimento de exigência da Agência Nacional do Petróleo.

Mas, respondendo a consulta durante processo de auditoria interna, a ANP as considerou desnecessárias, já que a Petrobrás tem uma subsidiária para esse fim, a Transpetro.