Título: Suplicy confirma versão de preso no caso Santo André
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A13

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) declarou ontem que na noite de 19 de janeiro de 2002 recebeu ligação, pelo celular, de uma pessoa que se dizia envolvida com o seqüestro do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) "e pretendia negociar a libertação da vítima". Em depoimento aos promotores criminais que investigam a morte de Daniel, o senador disse que a pessoa não se identificou, mas exigia a transferência de alguns presos. Ele foi ouvido em sua casa, no Jardim Paulistano, por 1h15. Suplicy disse que, quando recebeu o telefonema, estava no Palácio dos Bandeirantes, onde ele e um grupo de políticos do PT foram atendidos pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), a quem pediram esclarecimento do caso. Celso Daniel havia sido capturado na noite anterior, em 18 de janeiro. O corpo do prefeito foi encontrado na manhã de domingo, dia 20, em Juquitiba, Grande São Paulo.

Para os promotores Amaro Thomé Filho e Roberto Wider Filho, o relato do senador "é muito importante" porque confirma depoimento de uma testemunha - o presidiário José Marcio Felício, o Geleião, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), que disse ter ligado para Suplicy naquele dia. Geleião declarou ter feito contato com o senador após ter sido procurado por um "afilhado" da facção, Vladimir Mi, que lhe teria solicitado ajuda para arrumar cativeiro "para uma pessoa importante". Ele disse que, meses depois, soube que se tratava de Daniel. O MP encontrou ligações entre Mi e Ivã Monstro, preso sob acusação formal de integrar o grupo que executou Celso Daniel.

PROVA

Suplicy disse que argumentou com seu interlocutor que, "para ter início a negociação", precisava de uma prova de que o prefeito estivesse vivo. Eles conversaram mais de uma vez. Uma das ligações foi feita para uma linha fixa da sede do Executivo paulista. O senador comprometeu-se espontaneamente a fornecer ao Ministério Público o histórico de chamadas do celular que usava na época.

Antes da conclusão da negociação, surgiu a confirmação de que o corpo de Daniel havia sido localizado. Após o depoimento, Suplicy comentou com os promotores que Gilberto Carvalho - assessor especial do presidente Lula e ex-secretário de Governo de Santo André - lhe disse que sua função "era ajudar Celso Daniel a combater a corrupção". Os promotores querem ouvir Carvalho sobre suposto esquema de corrupção. "O Gilberto é uma pessoa muito correta, muito séria", anotou Suplicy.