Título: É difícil que Mesa fique, diz ministro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Internacional, p. A14

O presidente da Bolívia, Carlos Mesa, abandonou temporariamente ontem a sede do governo, o Palácio Quemado, por causa da ameaça dos milhares de manifestantes que pararam partes de La Paz ontem travando violentos choques com a polícia. O porta-voz presidencial, Osvaldo Candia, declarou a jornalistas que a saída do palácio foi sugerida pela segurança de Mesa. O presidente só voltou três horas depois, às 16h45, quando as forças de segurança conseguiram acalmar a situação. No início da tarde, logo após deixar o palácio, Mesa se reuniu com ministros em sua residência, num bairro de classe alta de La Paz, para analisar a situação. "Não temos o controle absoluto da situação", admitiu Candia. Após o retorno ao palácio, o porta-voz pediu que o povo "não acredite em boatos" de renúncia presidencial. Mas o ministro da Presidência, José Galindo, alertou que, se os protestos continuarem, "é muito difícil que o presidente e o governo possam continuar no exercício" de suas funções. Apesar da crise, o governo declarou não haver necessidade de mediação da Organização dos Estados Americanos.

A decisão de deixar a palácio foi tomada depois que uma multidão conseguiu entrar na Praça Murillo, onde se localizam também o Congresso e a Chancelaria. Por mais de uma hora os manifestantes lançaram fogos de artifício e pequenas cargas de dinamite.

O assédio da maré humana foi repelido pelos policiais, que dispararam granadas de gás lacrimogêneo e jatos d'água contra a multidão. Ao mesmo tempo, meia centena de soldados fortemente armados ingressava na sede do governo. Outro grupo de militares tomava posição nas vias adjacentes. Pelo menos dez pessoas foram detidas pela polícia por porte de dinamite.

A defesa da Praça Murillo foi dirigida pessoalmente pelo ministro do Interior, Saúl Lara, que permaneceu na porta do palácio mesmo depois da saída de Mesa e de outros funcionários do governo. Os protestos de ontem em La Paz foram os mais intensos das últimas quatro semanas, reforçados por milhares de camponeses, professores e mineiros em greve que chegaram da vizinha cidade de El Alto. No povoado de Sayari, um grupo de camponeses forçou a suspensão da exportação de petróleo para o Chile ao ocupar uma estação de bombeamento.