Título: Após 20 meses no poder, Mesa desiste
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Internacional, p. A14

Pressionado por protestos que paralisam a Bolívia há quatro semanas, o presidente Carlos Mesa anunciou ontem à noite a decisão de renunciar. 'Creio que minha responsabilidade é dizer que até aqui posso chegar', declarou Mesa em pronunciamento transmitido em rede de rádio e TV. 'Por isso, minha decisão é apresentar a renúncia ao cargo de presidente', acrescentou, visivelmente consternado. Mesa, cujo mandato iria até agosto de 2007, disse que ficará no cargo até que o Congresso aprove sua renúncia. 'Minha responsabilidade termina no dia em que o Congresso Nacional tomar a decisão. Não estou abandonando minha responsabilidade.' Ele acrescentou que ficará no país.

Mesa chegou à presidência há apenas 20 meses, em 17 de outubro de 2003, quando sucedeu a Gonzalo Sánchez de Lozada - que também renunciou em meio a grande agitação social.

Em março, em meio a manifestações pelo aumento dos impostos e dos royalties sobre a exploração de gás e petróleo por empresas estrangeiras (ler ao lado), Mesa também apresentou sua renúncia ao Congresso, que não a aceitou.

A nova decisão de renunciar foi anunciada ao fim de um dia marcado pelos maiores protestos em La Paz em quatro semanas. No início da tarde, Mesa chegou a abandonar a sede do governo, o Palácio Quemado, por causa da ameaça dos milhares de manifestantes que pararam partes de La Paz travando confrontos com a polícia.

Uma multidão conseguiu entrar na Praça Murillo, onde se localizam o Palácio Quemado e o Congresso. Por mais de uma hora, os manifestantes lançaram fogos de artifício e pequenas cargas de dinamite. A maré humana foi repelida pela polícia com granadas de gás lacrimogêneo e jatos d´água. Ao mesmo tempo, meia centena de soldados fortemente armados ingressava na sede do governo. Pelo menos dez pessoas foram detidas por porte de dinamite.

A defesa da praça foi dirigida da porta do palácio pelo ministro do Interior, Saúl Lara. Durante a tarde, enquanto Mesa estava reunido em sua casa com ministros, o porta-voz presidencial, Osvaldo Candia, admitiu: 'Não temos o controle absoluto da situação.' O presidente só voltou ao palácio depois de três horas, para anunciar sua renúncia. ?