Título: Cresce a disputa no mercado de café solúvel
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Economia, p. B16

Sem tradição de consumir café solúvel, o brasileiro começa a ser alvo de uma acirrada disputa entre pelo menos dois importantes fabricantes do produto. A atração pelo mercado que movimentou no ano passado cerca de 9,6 mil toneladas, - apenas 3,6% do consumo total de café no País, que inclui o grão torrado e moído -, deve-se ao ritmo de crescimento. Nos três últimos anos, as vendas acumuladas do produto aumentaram 28%. Além disso, com o enfraquecimento do dólar em relação ao real, ampliar as vendas domésticas é uma forma de atenuar o efeito negativo do câmbio nas exportações e no resultado das empresas. A partir de hoje, a Companhia Iguaçu de Café Solúvel, vice-líder do mercado nacional, inicia uma campanha agressiva de degustação e publicidade para conquistar o consumidor paulista. A empresa desembolsou R$ 2 milhões numa ofensiva que envolve filmes de televisão, enfocando a cremosidade da sua bebida.

"A nossa meta é conquistar 10% do mercado paulista neste ano", diz o diretor-comercial da empresa, Edivaldo Barrancos. Atualmente, a Café Iguaçu responde por 5% das vendas de solúvel em São Paulo. Para manter as fatias de 18% do mercado gaúcho e de 16% das vendas do produto em Santa Catarina e no Paraná, a empresa vai neste mês sortear prêmios, como aparelhos de DVD e máquinas fotográficas digitais, entre outros.

O Rio Grande do Sul é um mercado importante para o café solúvel. O consumo per capita no Estado é 8 vezes maior do que a média do País, que é de 50 gramas por ano. Pelo fato de ter o hábito de tomar chimarrão, o gaúcho se acostumou a consumir o café solúvel, explica Barrancos. Ele ressalta também que isso explica o elevado consumo na Inglaterra, de cerca de 700 gramas per capita ao ano, em razão do hábito de ingerir chá, assim como no Japão.

"Não temos estratégia de guerrilha", afirma Marcio Pereira, gerente de marketing da Companhia Cacique de Café Solúvel, a terceira no ranking do mercado doméstico, com participação de 4,8% nos volumes. Neste mês, por exemplo, a empresa planeja ser mais agressiva nas vendas: vai apresentar uma tabela de preços mais enxuta para o varejo, diz o executivo, sem revelar o tamanho dos descontos. A intenção, observa, é crescer no mercado do Sul.

O corte nos preços foi a fórmula adotada pela líder de mercado, a Nestlé, com a marca Nescafé desde o ano passado. De acordo com varejistas, a empresa reduziu a diferença entre o seu preço e o das marcas próprias de grandes redes de supermercados.

Jurg Blaser, diretor da divisão Cafés, Bebidas e Food Services da Nestlé Brasil, não confirma a redução de preços. Limita-se a dizer, por meio de sua assessoria, que o mercado de café solúvel no Brasil tem ainda grande potencial de crescimento e que a entrada de outras marcas de qualidade ajudam no desenvolvimento do segmento.