Título: Blair suspende referendo sobre Carta
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Internacional, p. A15

O primeiro-ministro britânico,Tony Blair, suspendeu por tempo indeterminado a convocação do referendo para ratificação pela Grã-Bretanha da Constituição européia, que ele havia anunciado para meados do próximo ano. A decisão foi anunciada ontem na Câmara dos Comuns pelo chanceler Jack Straw. Como causa, ele citou franceses e holandeses, acusando-os de torpedearem o projeto ao rejeitá-lo em referendo. Essa "pausa" adotada por Blair soa para vários deputados britânicos do Parlamento Europeu como atestado de óbito da Carta européia.

Agindo assim, Blair evitou, na verdade, uma derrota que poderia antecipar sua saída do cenário político e substituição por Gordon Brown, ministro de Finanças e número 2 do governo. Blair é adepto da Constituição da UE, aprovada por unanimidade no ano passado pelo Conselho de Ministros da UE (integrado pelos 25 chefes de Estado e governo dos países membros).

A derrota de Blair no caso de uma consulta popular seria esmagadora. Pelas pesquisas de opinião, 72 % dos britânicos rejeitam o texto constitucional.

Agora, a Comissão Européia (órgão executivo da UE) está-se mobilizando para evitar que a atual crise se alastre e provoque uma paralisia da instituição. A CE contaria com o apoio irrestrito dos governos dos 12 países que ainda não se manifestaram sobre a ratificação do documento. Esse também foi o principal objetivo do encontro entre o presidente francês, Jacques Chirac, e o chanceler alemão, Gerhard Schroeder.

No plano interno francês, mesmo atravessando uma fase de forte impopularidade, Chirac agiu rápido, decapitando seu primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin. O objetivo político da operação foi criar um sistema de defesa da presidência para evitar uma eventual desestabilização política. Isso explica também porque Chirac nomeou a contra gosto o popular Nicolas Sarkozy ministro do Interior e número 2 do governo. Sarkozy é candidato declarado à sua sucessão de Chirac.

O presidente Chirac, segundo as últimas pesquisas, tem o apoio de apenas 24% dos franceses. Ele pode estar mal em matéria de prestígio, mas todos reconhecem nele um hábil político. Sabe reverter situações adversas, mesmo que, para tanto, seja preciso sacrificar companheiros mais próximos.