Título: 19,5% dos homens com mais de 50 anos têm osteoporose
Autor: Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Vida &, p. A18

Pela primeira vez, um estudo mostra a incidência da osteoporose entre os homens brasileiros. O levantamento foi feito pelo Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into), no Rio, com 712 pacientes de 50 anos ou mais, dos quais 19,5% foram diagnosticados com a doença. Os números comprovam que o risco cresce conforme a pessoa envelhece: no grupo de 80 anos em diante, a prevalência foi de 36,4%. Entre os pesquisados com idades entre 50 e 59 anos, a taxa foi de 11,6%. Subiu para 20,6% na faixa etária entre 60 e 69 e para 23,2% entre 70 e 79 anos. Os dados são referentes a voluntários que procuraram o ambulatório do Programa de Osteoporose Masculina (Proma) do Into, criado em março do ano passado.

Para o geriatra Salo Buksman, coordenador do programa, tudo indica que a realidade brasileira é parecida com a mostrada pela pesquisa - o que gera preocupação. "Ficamos surpresos porque esperávamos uma prevalência de apenas 10%", disse o médico, que apresentará os resultados durante o Congresso Mundial de Gerontologia, no Riocentro, no fim de junho.

Com relação à incidência na população masculina norte-americana, quando são comparados os dados relativos somente ao fêmur (normalmente são avaliadas as densidades ósseas da coluna lombar e do fêmur), fica claro que as autoridades daqui precisam dar mais atenção ao problema: entre os brasileiros, o índice é de fraqueza deste osso é de 12%; já entre os americanos, de 5%, segundo Buksman.

"Talvez isso se deva ao fato de nós consumirmos menos leite, rico em cálcio", afirmou o geriatra. Ele lembrou que, na falta de estudos nacionais, os pesquisadores brasileiros vêm se baseando justamente nos trabalhos elaborados nos EUA. O levantamento, o primeiro do gênero na América Latina, chegou a conclusões já conhecidas pelos especialistas americanos: quanto mais clara a pele, maior é a probabilidade de se ter osteoporose. Entre os brancos, a taxa foi de 22,4%; entre os mulatos, de 16,8%; entre os negros, de 11,4%.

Os obesos são menos acometidos do que os magros. A incidência foi de 68,6% entre os mais leves e só de 7% entre os mais pesados - os médicos suspeitam que isso se deva ao impacto maior do indivíduo gordo com o solo, o que poderia favorecer a formação óssea, mas é preciso pesquisar mais a fundo.

Desde que foi criado, o ambulatório do Into recebeu mais de mil homens. Quando chegam, eles respondem a um questionário sobre seus hábitos. Entre aqueles que contribuem para o enfraquecimento dos ossos, está a falta de exercícios físicos e de exposição ao sol, a pouca ingestão de cálcio e o fumo - o que foi confirmado pela pesquisa: 29% dos fumantes tiveram diagnóstico positivo, contra 18% dos não-fumantes. Em seguida, todos os pacientes são submetidos ao exame de densitometria óssea. O tratamento, à base de remédios, é longo.

QUALIDADE DE VIDA

Para o aposentado Luiz Carlos Gomes Samarco, de 75 anos, o diagnóstico, feito no ambulatório, foi importante para alcançar uma qualidade de vida melhor. Ele procurou o Into um ano atrás, porque estava com dificuldades para caminhar. Acabou descobrindo a doença.

Samarco passou a tomar medicamento específico, além de cálcio. Tudo fornecido pelo hospital. "Se fosse comprar, seria muito caro. Hoje ando de bicicleta pelo bairro", contou.

A osteoporose masculina sempre mereceu menos atenção dos médicos do que a feminina, já que esta é mais comum - especialmente por conta das perdas decorrentes da menopausa. No entanto, entre os homens a doença provoca mais estragos (até porque os eles têm perda óssea já mais velhos e debilitados).

Antes dos 70 anos, a proporção é de três mulheres com osteoporose para cada homem; após os 70, a relação é de um para um. A fragilidade dos ossos é perigosa porque faz com com que eles se quebrem mais facilmente, o que pode levar à morte. Enquanto 19% das mulheres morrem um ano após a fratura, nos homens, a mortalidade chega a 39% dos casos.

A partir de junho, o Into fará nova pesquisa, entre aposentados com mais de 50 anos escolhidos aleatoriamente. A meta é comprovar os números já levantados.