Título: CNI vê sinais de desaceleração
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Economia, p. B4

As indústrias produziram bastante, mas isso pouco ajudou a aumentar o faturamento no mês de abril. É o que indica a pesquisa Indicadores Industriais, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ela mostra que na comparação com março, o número de horas trabalhadas na produção cresceu 3,48%, mas as vendas ficaram praticamente estagnadas, aumentando 0,13%. Duas possíveis explicações: os industriais produziram o suficiente para uma venda que, na prática, ficou abaixo do esperado, e a mercadoria acabou estocada ou a indústria dirigiu sua produção para o exterior, apesar do câmbio desfavorável. Qualquer que seja a explicação, a CNI vê sinais de que a indústria continua se desacelerando. Na comparação com março, já descontados os efeitos sazonais (como o aumento das vendas por causa da Páscoa), as vendas cresceram apenas 0,13%, o pessoal empregado aumentou 0,49% e os salários, na média, tiveram redução de 0,05%. A utilização da capacidade instalada, que também mede o nível de atividade, foi recorde para o mês de abril, atingindo 82,1%, mas manteve-se estável em relação aos últimos 4 meses.

Na avaliação do economista da CNI Paulo Mol, os números mostram que uma parcela crescente da produção está sendo destinada ao mercado externo. "Com o câmbio atual, quando se faz a conversão das vendas de dólar para real, o aumento da produção não está gerando expansão do faturamento em moeda nacional", disse, lembrando que a valorização do real em abril foi de 5%.

O dólar baixo, porém, provocará estragos mais adiante, segundo o coordenador da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca . "O ímpeto para buscar novos mercados pode ser afetado e vai se refletir nos resultados das exportações no ano que vem", disse. Ele acredita que as exportações estão funcionando como uma espécie de colchão, amortecendo a retração na economia doméstica. Para Fonseca, se a demanda interna estivesse aquecida, algumas empresas poderiam deixar de exportar e escapar do câmbio pouco atraente.

A CNI alerta que alguns empresários podem estar retardando os investimentos na expectativa de o que câmbio fique mais competitivo e o juro básico volte a cair. "Apesar da desaceleração, o ritmo de atividade ainda está alto, o que indica que os empresários estão avaliando este cenário da economia como temporário e esperam um crescimento positivo em 2005", afirmou Paulo Mol. Para o economista, sem a redução da Selic, hoje em 19,75% ao ano, não há como conter a valorização do real frente ao dólar.

No próximo mês, a CNI vai divulgar a revisão das suas expectativas de crescimento do PIB nacional e do PIB industrial.