Título: Furlan: exportação vai perder fôlego
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Economia, p. B9

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse que não espera grande crescimento das exportações em junho, por causa da base de comparação, "bastante forte". Junho de 2004 registrou o melhor mês da história das exportações, com vendas de US$ 9,3 bilhões. Segundo Furlan, as exportações de minério de ferro, enfraquecidas no primeiro trimestre por causa dos reajustes de preços, já estão mais fortes em abril e maio, com alta superior a 60% sobre abril/maio de 2004. Mas, ressaltou o ministro, os preços internacionais do setor de aço parecem estar se acomodando, o que significa que deve haver estabilidade nas exportações do produto daqui para frente. "Neste ano, os preços do aço começaram bons, mas tendem a declinar alguma coisa ao longo do ano", disse, durante a 5.ª Reunião do Conselho Estadual de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Cericex), do governo do Estado de São Paulo.

Na ocasião, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) inaugurou a Mesa de Operações Internacionais, ferramenta de apoio aos exportadores de menor porte. O evento marcou também o início dos serviços da Rede de Centros de Informações de Comércio Exterior do governo federal.

Furlan lembrou que, para superar o ritmo de crescimento da segunda metade do ano passado, as exportações terão de ser superiores a US$ 10 bilhões ao mês. Admitiu que "é até possível passar, mas mesmo assim estamos mantendo nossa meta de exportar US$ 112 bilhões em 2005". No acumulado do ano até maio, observou, as vendas externas totalizaram US$ 106 bilhões.

Para o ministro, as exportações continuam a crescer porque os esforços do governo para desonerar as exportações, reduzir os custos de transações e melhorar a logística anulam o efeito negativo do câmbio. "Reduzir custos tem efeito direto para limitar a valorização do real. Apesar da queda nas vendas de soja, por causa sobretudo da sobra da safras, há setores muito fortes, como os eletrônicos, açúcar, café e etanol." A média diária de exportações nos três primeiros dias de junho foi de US$ 500 milhões.

Furlan também acredita que as importações vão continuar em alta, ao redor de US$ 300 milhões ao dia. O ministro afirmou que seu ministério não tem mecanismos para atuar no câmbio, mas admitiu sempre torcer a favor para que o câmbio seja atraente ao exportador.

O ministro pouco falou sobre o impacto do câmbio nas vendas externas, mas destacou que o real talvez seja a moeda que mais tenha se fortalecido em todo o mundo. "Apesar da moeda, já chegamos a US$ 106 bilhões no acumulado de 12 meses , o que deixa o desafio de exportarmos mais US$ 6 bilhões em 12 meses até dezembro para cumprirmos a meta."

O ministro espera que o real reflita a valorização do dólar ante o euro, registrada nos últimos dias. A moeda americana, disse, registrou apreciação de 3% em relação ao euro e, se o real foi refém do processo de desvalorização do dólar, deve agora se ligar ao processo de valorização da moeda americana. "O real parece estar vacinado", observou.

Hoje, acrescentou, o governo federal deverá finalizar a "MP do Bem", que inclui a desoneração de softwares, produto de destaque na pauta de exportações de São Paulo. Sobre a crise política e o suposto esquema de compra de apoio no Congresso, ele afirmou nada saber sobre as denúncias, já que esteve na Europe por duas semanas e só retornará a Brasília hoje.

AVIÕES

Para Furlan, as exportações de aviões serão mais fortes no segundo semestre, o que compensará algum eventual efeito na desaceleração das vendas externas do Estado de São Paulo no ano até maio. "A própria Embraer admitiu que as entregas estão concentradas na segunda metade do ano, principalmente pela demanda da nova série 170 e 190."

Segundo dados do governo paulista, as exportações de São Paulo cresceram 16,8% em maio ante o mesmo mês de 2004. Na mesma base, as vendas externas brasileiras subiram 23,6%. Mas o Estado também registrou importações inferiores à média nacional: 14,6%, ante 31,8% do Brasil. Isso explica, sempre na mesma base de comparação, o incremento de 25,8% no saldo positivo da balança comercial paulista ante 10,9% do País.

O levantamento mostra ainda que a participação de São Paulo no total exportado pelo Brasil caiu de 33,7%, em maio de 2004, para 31,8%, em maio de 2005. Quando se compara o período janeiro a maio de 2005 e janeiro a maio do ano passado, as exportações paulistas cresceram 25,2%, ante 27,9% do Brasil. Na ponta importadora e ainda na mesma base de comparação, São Paulo teve alta de 11,3%, contra 22,2% do País, e o saldo comercial paulista cresceu 216,7% no período ante 39,6% no Brasil.

Aviões e automóveis são os principais produtos exportados pelo Estado. De acordo com o levantamento, os produtos que registraram maior crescimento de vendas, de janeiro a abril, foram motores a diesel (200%), terminais portáteis de telefonia celular (1 97%) e açúcar de cana em grupo (180%), sempre na comparação com o mesmo período do ano passado.