Título: CPI dos Correios será instalada hoje com luta por postos-chave
Autor: Christiane Samarco, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Nacional, p. A4

Depois de três semanas de disputa, será finalmente instalada na tarde de hoje a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar denúncias de corrupção nos Correios. Foram indicados ontem os 32 integrantes da CPI - 16 senadores e 16 deputados. Ao menos no papel, o governo conta com uma maioria estreita: 19 membros da comissão podem ser considerados aliados do Planalto, contra 13 da oposição. O maior problema para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que o PT ainda não conseguiu definir uma estratégia para enfrentar a investigação parlamentar. Dá uma boa idéia da desarticulação do partido o fato de que ele foi incapaz de indicar os deputados que vão representá-lo na CPI. Por isso, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), usou de suas prerrogativas e escolheu três nomes do PT da Câmara para fechar a escalação da CPI. Tais deputados certamente serão substituídos pelo partido.

A luta agora será para garantir os postos de comando da CPI, com a indicação do presidente e do relator dos trabalhos. Mas os aliados do Planalto ainda não sabem o que fazer. Só na manhã de hoje representantes do PT e do PMDB vão se reunir para discutir o assunto.

O PT quer indicar o relator da CPI e o nome mais cotado é o do deputado Jorge Bittar (RJ). O PFL argumenta que, por tradição, cabe ao partido que pediu a abertura da investigação designar o responsável pela relatoria. Por isso, o cargo teria de ficar com a oposição. Como a alegação do PFL parece procedente, é possível que o impasse só seja no voto.

Dirigentes do PMDB advertem que o sucesso de qualquer operação governista na CPI dependerá da coesão dos aliados do Planalto e da definição de uma estratégia bem clara. Sob o comando de Renan Calheiros, a cúpula do partido decidiu ontem que não vai tomar a dianteira, deixando para o PT a tarefa de organizar a resistência.

Justamente quando o governo mais precisa da unidade dos maiores partidos de sua base, é tenso o clima entre as duas legendas. Senadores do partido de Renan estão irritados com os petistas, a quem atribuem manobras para incriminar o PMDB no chamado mensalão. De acordo com o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), parlamentares recebiam uma mesada para votar conforme o interesse do governo. Segundo as primeiras declarações do denunciante, porém, apenas congressistas do PP e do PL se beneficiavam do esquema irregular.

O pior para o governo é que até agora fracassaram todas as tentativas de assegurar que as investigações da CPI se restrinjam aos negócios dos Correios, sem avançar para as atividades de outras estatais e também para o caso do mensalão. Ontem os governistas buscaram mais uma vez estabelecer limites para os trabalhos da CPI, mas não obtiveram sucesso.

CONSTITUCIONAL

À noite, por 40 votos a favor e 6 contra, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou parecer do deputado Inaldo Leitão (PL-PB) que considera constitucional o requerimento de criação da CPI dos Correios. A votação dividiu os partidos da oposição. O PSDB foi favorável à proposta, enquanto seis deputados do PFL votaram contra o parecer, porque queriam a apreciação do recurso só na próxima semana.

"O resultado final é a rendição do governo à CPI", disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP). A CPI tem 180 dias para apurar a denúncia de suposta existência de esquema de corrupção na Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos. O orçamento para as despesas da comissão é de R$ 150 mil.