Título: Político do PL intermediou oferta de mesada a tucana
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Nacional, p. A6

Um parlamentar do Partido Liberal (PL) foi o intermediário que tentou convencer a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) a mudar de partido em troca de mesada de R$ 30 mil e bônus anual de R$ 1 milhão, segundo confirmaram ao Estado duas fontes ligadas ao governador de Goiás, Marconi Perillo. O assédio, ocorrido em 2004, antes de a deputada pedir licença para assumir a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, foi denunciado por Perillo no início da semana, após o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmar que parlamentares recebiam dinheiro do governo para apoiar projetos de interesse do Executivo.

Sem dar os nomes, o governador disse que havia alertado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em maio de 2004, que dois políticos locais tinham sido abordados para integrar o esquema. Reportagem do Estado revelou que Raquel Teixeira é uma dessas parlamentares.

Na época, Perillo foi informado, pela própria deputada, das condições da proposta e quem era o intermediário. Indignada com o assédio, Raquel chegou a comentar sobre o ocorrido também com políticos do PSDB goiano. Esta semana, com a deflagração da crise política, a deputada tornou-se uma peça importante nas investigações e colocou nas mãos do PSDB um trunfo importante: o nome de um dos integrantes do esquema. Essa informação, entretanto, tem sido tratada com muita cautela no partido. A estratégia do PSDB, segundo um tucano influente, é estimular a apuração das denúncias, mas sem "tocar fogo no governo".

"Queremos tratar essa questão com equilíbrio. Não queremos tirar o Lula do governo, mas a apuração é inevitável. O Marconi (Perillo) e a Raquel falarão no momento adequado", disse a fonte, destacando que isso tem gerado atritos entre o partido e o PFL. "O PFL quer mais sangue. Eles estão mais aguerridos do que a gente", completa.

O momento adequado para fazer uma revelação de tamanha importância, na avaliação de deputados e senadores, seria durante os trabalhos da CPI que irá apurar as denúncias. Isso porque ambos seriam convocados e obrigados a contar a verdade sob juramento. Mesmo nessa circunstância, há quem veja a divulgação dos nomes dos envolvidos com ressalvas. Para o deputado Carlos Alberto Leréia (GO), a sua colega tucana não terá como fugir e será obrigada a dizer os nomes e em que circunstâncias tudo aconteceu, mas isso promete dar muita dor de cabeça.

"Entendo a preocupação da Raquel porque, se ela não tiver como comprovar a conversa e o intermediário negar, vai ficar a palavra de um contra a de outro", ponderou. Leréia foi um dos que souberam do assédio, quando ocorreu. A deputada contou os detalhes da proposta e o nome do intermediário, mas Leréia diz que não irá comentar. "É um questão pessoal da Raquel."