Título: Jefferson recupera poder em Petrópolis e controla compras
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Nacional, p. A8

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) tem recuperado nos últimos dois anos sua influência na administração municipal de Petrópolis, sua cidade natal, na região serrana do Rio. Depois de anos afastado do poder na cidade, Jefferson só voltou a influenciar a administração em 2003, quando consolidou uma aliança com o prefeito Roberto Bomtempo (PSB). Em troca de apoio no Legislativo e, principalmente, na campanha vitoriosa pela reeleição, o prefeito deu ao PTB de Jefferson cargos-chave da prefeitura. O principal deles é a Secretaria Municipal de Administração, por onde passam as compras, licitações e contratações de pessoal da prefeitura. Jefferson também pediu a direção da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans). Sob a administração do PTB, a empresa acumula prejuízos. Em apenas um ano, seu endividamento aumentou 45%.

Jefferson indicou para dirigir a empresa Pedro Henrique Carvalho, então presidente do PTB municipal e colaborador do deputado há décadas. Afastado por motivo de saúde, Carvalho foi substituído por Jurair Corrêa, também ligado a Jefferson. Apesar de ter-se desligado do PTB há dois meses, Corrêa continua amigo do deputado.

Os problemas financeiros da CPTrans são a raiz de uma disputa entre os membros dos conselhos fiscal e administrativo da empresa. Os conselheiros que recusam-se a avalisar o balanço de 2004, que deveria ter sido publicado em abril. Um parecer interno do conselho fiscal da CPTrans obtido pelo Estado recomendou à diretoria a adoção de um plano de saneamento da empresa com base em análises desfavoráveis feitas pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) e por uma auditoria interna.

Pelo segundo ano consecutivo, a empresa teve um prejuízo de R$ 400 mil. O endividamento passou de R$ 3,5 milhões, em 2003, para R$ 5,1 milhões no ano passado.

O parecer aponta débitos com o INSS e a falta de seguro para o patrimônio da companhia. Outra recomendação feita pelo Tribunal de Contas é a necessidade de adequar o quadro de pessoal ao limite previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2004, os salários consumiram 65% dos gastos. Boa parte desses salários é paga a ocupantes de cargos comissionados criados para acomodar afilhados do PTB.

Entre os indicados que conseguiram cargos na CPTrans está um tio de Jefferson, Djalma Monteiro, falecido em setembro do ano passado. No mesmo mês, o cargo de assessor jurídico, cujo salário é de R$ 3.342, foi assumido pela filha dele, a prima de Jefferson Carina Barboza Monteiro. Ainda estão empregados Pedro Américo Silveira Carvalho, filho do ex-diretor Pedro Henrique Carvalho indicado por Jefferson, e parentes de aliados políticos do deputado.

Procurado pelo Estado, o diretor-presidente da CPTrans, Jurair Corrêa, não foi encontrado e não retornou as ligações. O prefeito Rubens Bomtempo afirmou que os cargos preenchidos com pessoas ligadas a Jefferson não indicações pessoais do deputado, mas do diretório municipal do PTB. "A minha aliança é institucional com o PTB, do qual Roberto Jefferson faz parte. Fiz uma aliança com nove partidos, entre eles o PTB, e eles indicam pessoas", disse.

O prefeito alegou que recebeu, em 2001, a CPTrans, então CPT, com um rombo superior a R$ 1 milhão. Para o prefeito, a situação financeira da companhia é hoje "equilibrada", diante de um esforço de contenção.

Sobre as denúncias que envolvem Jefferson no cenário nacional, o prefeito Bomtempo limitou-se a dizer que torce para que o deputado demonstre sua inocência. "Nossa relação é política, ele lá em Brasília e nós aqui". Bomtempo, no entanto, "deu" a Secretaria de Administração a Marcus Wilson Von Seehausen, homem de confiança de Jefferson, e o manteve no cargo mesmo depois de ele ser condenado pela Justiça de Petrópolis em 2004 pelos crimes de agiotagem e formação de quadrilha.