Título: Apuração no IRB se concentra em 2 diretores
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Nacional, p. A9

A Comissão de Sindicância instalada no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) para apurar irregularidades ganhou mais uma semana para concluir seu relatório, mas, ao mapear o esquema de favorecimento a corretores no Brasil de resseguradoras estrangeiras, passou a focar seu trabalho na ação de dois diretores - Luiz Eduardo Pereira de Lucena, indicado pelo deputado José Janene (PP-PR), e Carlos Murilo Barbosa Lima, ligado aos senadores maranhenses Edison Lobão (PFL) e José Sarney (PMDB). Os dois travaram agressiva disputa pela presidência do órgão no início de 2004, quando Lídio Duarte (representante do PTB) deixou o cargo, mas foram derrotados por Luiz Appolonio Neto - primo do deputado Delfim Netto (PP-SP) e ligado ao secretário-geral do PTB, Luiz Antônio Fleury - e acabaram se recompondo. Foi então que o corretor Henrique Brandão, da Assurê Administração e Corretagem de Seguros, passou a concentrar contratos de resseguros de empresas estatais, que geraram R$ 3,2 milhões em comissões e o transformaram, da noite para o dia, no quinto maior operador do IRB.

O diretor financeiro, Alberto de Almeida Pais, único sem padrinho político, deverá ser inocentado na investigação - sua atuação foi fundamental para o Conselho de Administração agir contra o esquema. Os demais - Appolonio e Manoel Morais de Araujo, do PT - tendem a ter responsabilidade atenuada, uma vez que, na reta final, ajudaram o Conselho a acabar com as irregularidades. A reforma que extinguiu a diretoria comercial ocupada por Luiz Lucena, onde o esquema funcionava, foi proposta em voto assinado por Appolonio em 22 de junho de 2004.

O novo presidente do IRB, Marcos Lisboa, passou o dia de ontem trabalhando na composição da nova diretoria, que toma posse quarta-feira que vem.

COMO FUNCIONAVA

Luiz Lucena escolhia o corretor livremente, sem obediência a regras ou critérios, em contratos de até R$ 500 mil. Partilhava a decisão com Lídio Duarte, que aparece em fita da revista Veja denunciando o deputado Roberto Jefferson por cobrar mesada de R$ 400 mil. Indicado pelo ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, Lídio se deu bem com Lucena no início. As brigas começaram após a morte de Martinez em 2003.

Principal favorecido na escolha dos contratos monopolistas do IRB, o presidente da Assurê, Henrique Brandão, tinha dois amigos estratégicos no esquema: Jefferson e Lucena, que operava a poderosa diretoria comercial. Sua corretora abrigou o genro de Jefferson e foi a maior financiadora da campanha da filha do deputado a vereadora no Rio. Com influência e poder em alta, Brandão teria ameaçado Lídio: "Você será demitido", segundo relatos de empresários do setor.

Lídio acabou demitido e Brandão ganhou contratos milionários, como os de Furnas e Infraero. Sua corretora saltou para o quinto lugar, com US$ 18,435 milhões (R$ 46,l milhões) em contratos.