Título: Na reunião fechada, o dono do cofre chorou
Autor: Ana Paula Scinocca, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Nacional, p. A11

O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, foi às lágrimas ontem durante reunião com 16 dos 21 membros da executiva petista. Ao lado dos companheiros de sigla, Delúbio fez sua defesa, negou com veemência ter conhecimento ou envolvimento com o mensalão e chorou quando lembrou de sua trajetória de vida e da luta política nos últimos 30 de seus 49 anos. O dono do cofre do PT falou logo no início da reunião, por volta das 11 horas da manhã. Foi o 2.º a se colocar, após abertura do encontro feita pelo presidente do partido, José Genoino. Por cerca de 15 minutos, repetiu, com firmeza, que as denúncias do deputado do PTB, Roberto Jefferson, eram mentirosas e jogou o seu futuro nas mãos do partido. "Farei o que partido achar melhor", disse Delúbio, segundo relato de testemunhas da reunião.

Depois do encontro, no qual foi poupado, Delúbio teve de enfrentar outro desafio: dar, a um batalhão de jornalistas que lotou o auditório do PT, sua primeira entrevista desde que foi apontado por Jefferson como responsável pelo pagamento de mesada para deputados da base aliada em troca de apoio.

Para a entrevista de ontem, Delúbio se preparou desde o dia anterior. Reuniu-se com os advogados e parte da cúpula petista. Agora, depois da superexposição, voltará a submergir e evitar entrevistas. Ao final da coletiva, cada jornalista recebeu uma cópia do currículo do tesoureiro.

Na semana que vem, o PT deverá propor ação por danos morais contra a revista Veja, que lançou as primeiras denúncias de corrupção nos Correios, e contra Roberto Jefferson. Delúbio também apresentará uma ação individual. O secretário-geral do PT, Silvio Pereira, estuda seguir o mesmo caminho.

RECICLAGEM

A cúpula petista aposta que o processo de "reciclagem" e "despartidarização" iniciado pelo Planalto na troca de comando dos Correios e do Instituto de Resseguros do Brasil deve continuar, especialmente nas estatais. Sem estardalhaço, para conter possível resistência entre os partidos aliados, o presidente Lula pretende reforçar o caráter técnico de postos-chave no 2.º e 3.º escalão. Nesse sentido, as declarações do ministro das Cidades, Olívio Dutra, atribuindo a crise às "más companhias", foram consideradas desastrosas. "A ordem é para ninguém chutar o balde", avisa um dirigente do PT.