Título: Tesoureiro fica, ao menos por enquanto
Autor: Ana Paula Scinocca, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Nacional, p. A11

A permanência de Delúbio Soares na secretaria de Finanças do PT - acertada ontem pela executiva do partido, apesar dos apelos do Palácio do Planalto - será posta em xeque novamente na reunião do diretório nacional da legenda, convocada para dia 18. Pelo menos o senador Eduardo Suplicy (SP) e o deputado Ivan Valente (SP) irão recomendar o afastamento. Mas integrantes da executiva petista - que hipotecou solidariedade até aqui incondicional a Delúbio - avisaram ao tesoureiro que a pressão irá aumentar e seu afastamento será inevitável, se surgir qualquer nova informação a respeito da suposta mesada paga a deputados da base aliada. Apesar de discutir as pressões sobre o tesoureiro, nenhum membro da cúpula petista pediu seu afastamento ontem, na reunião de quase cinco horas na sede do partido. "O que existe em relação ao Delúbio são ofensas e agressões. Ele se pronunciou na executiva e se colocou à disposição do partido para prestar contas sobre qualquer ofensa ou acusação infundada", afirmou o presidente do PT, José Genoino, traduzindo a impressão geral do grupo de que o afastamento, agora, seria declará-lo culpado antecipadamente. "A CPI está aí e a vida continua, mas se surgir mais alguma coisa, ele sabe que será difícil segurá-lo", disse um participante da reunião. "O problema é que temos quase certeza de que vem mais bomba por aí", afirmou outro dirigente.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Delúbio não se falam desde que estourou o escândalo do "mensalão". Sem disposição para deixar o cargo, Delúbio teria condicionado sua saída a um pedido pessoal do presidente. Mas Lula, irritado, não tomou a iniciativa. O contato com o tesoureiro tem sido feito por meio do secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho.

Além de decidir pela manutenção de Delúbio e a convocação da reunião do diretório, na próxima semana, a executiva petista convocou um ato, no dia 17, em defesa da imagem do PT. Foi aprovada resolução salientando que o PT "lutará, com sobriedade e responsabilidade, para que a democracia não se desvie das suas funções para se transformar num instrumento de ataque ao governo Lula e de agressão à governabilidade do País". O texto foi aprovado com dez votos, de um total de 16 - dos 21 integrantes. Outra resolução, que recebeu seis adesões e foi feita pelas tendências de esquerda e centro da sigla, também foi apresentada. A principal diferença entre as duas peças é que no documento rejeitado são feitas críticas às políticas de alianças e econômica adotada pelo governo.

Na resolução aprovada e apresentada pelo Campo Majoritário, principal tendência do PT, o partido manifesta convicção de que o Congresso cumprirá sua função de dar continuidade aos trabalhos e que conduzirá a CPI dos Correios "com transparência e tranqüilidade, garantindo a normalidade democrática do País". Os petistas destacam ainda o compromisso do governo no combate à corrupção e listam os resultados de 67 operações anticorrupção. A executiva também descartou a hipótese de adiar ou suspender o processo de eleição direta interna do partido, marcado para 18 de setembro.