Título: Ipea constata 'freada de arrumação'
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2005, Economia, p. B3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) rebaixou de 3,5% para 2,8% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, por causa dos juros altos e da fraca performance dos investimentos e do consumo privado no primeiro trimestre. Na prática, o Ipea engrossou o grupo dos que projetam que o crescimento econômico deste ano não chegará a 3%. O Banco Itaú estima crescimento do PIB de 2,6% para 2005. A MB Associados, do economista José Roberto Mendonça de Barros, prevê avanço de 2,8%. Segundo a última pesquisa do Banco Central (BC), a projeção média das instituições do mercado está em 3,27%. Para o Ipea, a economia sofreu uma "freada de arrumação", mas pode retomar o crescimento à faixa de 1% sobre o trimestre anterior no segundo semestre.

"A economia brasileira não tem um problema de demanda. O problema é conciliar um crescimento razoável com a inflação sob controle. Nosso problema não é como religar a economia e permitir que ela cresça mais", disse o diretor de Macroeconomia do Ipea, Paulo Levy, defendendo o crescimento sustentável, "que leve os empresários a investir", e não a uma expansão de fôlego curto.

Levy explica que houve um impacto maior dos juros sobre a economia do que o previsto. "Ninguém está defendendo uma aderência estrita à meta (centro), mas uma trajetória consistente de declínio", afirmou. Ele defende a redução gradual da inflação, para perto de 6% este ano, de 5% em 2006 e a fixação da meta de 4,5% para 2007. Ele acha que a política monetária "deve mirar na meta, mas não a ponto de sacrificar exageradamente o crescimento, mirar na meta com alguma flexibilidade".

O Ipea reviu a projeção do IPCA para 6,3% este ano e 5,3% no ano que vem. Reduziu, ainda, a previsão de crescimento dos investimentos em 2005 de 8,3% para 4,8%; do consumo privado, de 4,3% para 3,8%; e da produção industrial, de 4,6% para 3,6%. Levy ponderou que a queda do investimento no primeiro trimestre foi "muito influenciada" pela retração no setor agrícola e pelo acúmulo de estoques de aço para construção desde o fim do ano, que desestimularam a fabricação do produto.

Apesar da revisão, o Ipea prevê que a taxa de investimentos sobre o PIB passará dos 19,6% de 2004 para 21,4% este ano - maior taxa desde 1990 -, com a recuperação dos investimentos. Para 2006, o Ipea estima crescimento de 7,3% nos investimentos. Levy explicou que não há como quantificar os efeitos da atual crise política sobre a economia. Crises deste tipo, disse, "aumentam um pouco a incerteza" e, quanto mais perduram, pior para a economia.

Os juros, para o Ipea, podem voltar a cair a partir do terceiro trimestre e devem fechar o ano ao redor de 19%. Além disso, o Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do instituto espera impactos do novo salário mínimo e de uma política fiscal "potencialmente mais expansionista", já que no início do ano o resultado primário foi elevado.