Título: Acordo não sai e governo deve garantir comando da CPI
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A4

Deverão ficar mesmo com aliados fiéis do governo Lula os postos de comando da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para apurar denúncias de corrupção nos Correios. O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), deverá ser o presidente da CPI e o deputado Osmar Serraglio (PMDBPR) será provavelmente escalado para a função de relator dos trabalhos. Ontem, dia seguinte à primeira reunião da CPI, eram mínimas as chances de surgir um acordo entre governistas e oposicionistas para escolher os titulares dos dois cargos. Com isso, a escolha tem tudo para ser decidida no voto, na próxima terça-feira. Na CPI, o governo tem 19 dos 32 integrantes, uma folgada maioria. 'Acho muito difícil um consenso', disse ontem o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTBRN). As dificuldades para fechar um acordo são grandes porque nenhum dos lados demonstra disposição de ceder.

Os aliados não aceitam o nome do senador César Borges (PFLBA), proposto pelos partidos de oposição - PFL e PSDB - para a presidência ou a relatoria da CPI. A oposição diz que não tem nome alternativo a Borges. 'A substituição pode cheirar a conchavo, a um acerto subalterno e a desprestígio do companheiro', afirmou o líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN). Borges foi indicado em conjunto por PSDB, PFL e PDT, que somados têm 32 dos 81 senadores.

Nos bastidores, os governistas alegam que a escolha de César Borges para um posto-chave da CPI representaria entregar nas mãos do senador Antonio Carlos Magalhães (PFLBA), a quem o pefelista baiano é ligado, o controle da comissão.

Daí a decisão de não aceitar a indicação de Borges. 'Não queremos que o indicado da oposição possa representar um descompasso com a responsabilidade que o momento exige. Queremos alguém que aja com imparcialidade', afirmou o senador Tião Viana (PTAC). O nome proposto pelos líderes da base foi o do senador Edison Lobão (PFL-MA), um aliado fiel do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).

Mas a oposição não aceita Lobão. 'A estratégia do governo é de manipular para controlar a CPI', acusou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Os aliados argumentam ainda que o PMDB é o maior partido no Senado e o PT na Câmara e, por isso, cabe às duas legendas ocupar a relatoria e a presidência da CPI dos Correios. Para sustentar a tese, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), fez um levantamento mostrando que nos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso os postos-chave das CPIs mistas (Câmara e Senado) sempre foram ocupados por representantes das maiores bancadas.

Apesar de todas as dificuldades para uma conciliação, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou a pedir ontem que governo e oposição cheguem a um acordo. 'Sem entendimento, não há outro caminho, senão o voto. Muitas vezes, o voto não é a melhor saída, sobretudo numa hora dessas, quando é importante somar esforços para esclarecer e para investigar', aconselhou Renan.

As investigações da CPI, voltou a dizer o presidente do Senado, não devem se limitar às denúncias de corrupção nos Correios. Para ele, o recomendável é que suspeitas em outras áreas também sejam apuradas pela comissão