Título: MP pede apuração de suposta propina na gestão Marta
Autor: Iuri Pitta
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A4

O Ministério Público pediu à Câmara Municipal que abra investigações sobre denúncias de que teria ocorrido pagamento de propina a integrantes da base que dava apoio à ex-prefeita Marta Suplicy (PT) na Casa e a membros da gestão passada. Há um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) protocolado no dia 2, assinado por 21 parlamentares. Para ser instaurada, a CPI precisa do voto em plenário de 28 dos 55 vereadores. Segundo reportagem da revista Veja publicada no mês passado, a empresa Consladel, que presta serviços de fiscalização eletrônica do trânsito à Prefeitura, comandaria um esquema de pagamento de propina a vereadores e integrantes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), São Paulo Transporte (SPTrans) e Departamento de Iluminação Pública (Ilume). Os valores chegariam a R$ 1,4 milhão, segundo a publicação. Os envolvidos negam a acusação.

Quando a denúncia surgiu, o presidente da Câmara, Roberto Tripoli (sem partido), encaminhou ao MP ofício para que fossem tomadas providências. Agora, há um pedido de CPI dentro da Casa, apresentado pelo vereador Dalton Silvano (PSDB). Mas, pela exigência dos 28 votos, a comissão precisa de apoio de vereadores que eram da base de apoio a Marta e de parlamentares que hoje apóiam a gestão José Serra (PSDB).

Quando assumiram a Prefeitura, os tucanos deixaram claro que a prioridade seria "governar a cidade", e não "olhar para o passado". Tanto que as duas CPIs em andamento na Câmara demoraram a sair: a discussão era encontrar dois temas que não fossem considerados "polêmicos". Uma das comissões apura a "exploração de trabalho análogo ao de escravo nas empresas regulares ou irregularmente instaladas em São Paulo", enquanto a outra investiga "eventuais irregularidades" em Centros Desportivos Municipais (CDMs). Setores como transportes e lixo, que renderam os principais debates políticos da gestão Marta, foram deixados de lado, pelo menos por este ano.

Não é a primeira vez que surgem acusações de pagamento de propinas a vereadores durante a legislatura passada. No fim de 2003, veio a público uma gravação em que o vereador Gilberto Natalini (PSDB) disse que colegas de Câmara recebiam "de R$ 500 mil a R$ 1 milhão" para apoiar o governo. O tucano estava em uma reunião fechada e não sabia que estava sendo gravado ao fazer a denúncia. Depois que a acusação foi retirada, o caso foi arquivado na Casa.